Sou Mabelle Balieiro — jornalista, na reta final de psicologia, pós-graduada em psicologia social e em formação em intervenção na autolesão, prevenção e posvenção do suicídio. Também estudei responsabilidade social (presencial) na Birkbeck Universidade de Londres.
Sou autista nível 1 de suporte, superdotada/altas habilidades e mãe do Murilo. Há mais de 15 anos convivo e trato depressão e ansiedade, o que me permitiu não só compreender essas dores, mas também acolher outras pessoas que enfrentam lutas semelhantes, cada uma à sua maneira. Em 2021, iniciei a faculdade de psicologia, dando início a uma nova etapa que une minha história pessoal ao conhecimento acadêmico e prático.
Nesta minha estreia aqui como colaboradora do site Coletivamente, o que muito me anima, gostaria de conversar com vocês sobre um projeto que elaborei com muito cuidado e carinho: o “De volta para a vida”.
O “De volta para a vida” nasceu da minha própria experiência com saúde mental. Enfrentei episódios de depressão profunda e crises intensas de ansiedade, que me levaram a momentos de muita dor e a não querer mais continuar. Sobrevivi, voltei para a vida depois de muitos anos. E foi dessa dor que nasceu a vontade de transformar minha história em acolhimento para outras pessoas.
Depois de muita luta, veio o diagnóstico de autismo nível 1, o que me ajudou a compreender melhor minha forma de existir no mundo e os desafios que sempre enfrentei. Mas antes de qualquer diagnóstico, o que me trouxe até aqui foi a vivência crua com o sofrimento e a busca por esperança real.
Redes de apoio profissional e pessoal
Nesse período, também tive contato direto com redes de apoio profissionais — hospitais, emergências, psiquiatras e terapeutas. Sei, na prática, como funciona o atendimento em situações de crise, como é de costume o acolhimento e como, muitas vezes, ainda falta muito dele nesse processo.
Mas compreendi também a importância da rede de apoio pessoal: mostrar a familiares e amigos o quanto eles são fundamentais na vida de quem sofre, ajudá-los a lidar com os próprios sentimentos e até com o luto. Afinal, quando alguém se automutila ou tenta suicídio, a família também não sofre?
O Brasil vive uma crise silenciosa: 11,7 a 12 milhões de pessoas vivem com depressão. É como se toda a população da cidade de São Paulo, mais a do Rio de Janeiro, juntas, estivessem em sofrimento. Além disso, o SUS registrou em 2023 cerca de 11 mil internações de pessoas que atentaram contra a própria vida. Todos os dias, no Brasil, algo em torno de 45 pessoas cometem suicídio, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
No Estado do Rio de Janeiro, o contraste é alarmante: mesmo com um dos menores coeficientes proporcionais de mortalidade por suicídio, o estado ocupa o sexto lugar em número absoluto de suicídios no país.
Além da saúde mental, o “De volta para a vida” também aborda o autismo nível 1 em adultos. A aceitação ainda é muito difícil, pois existe preconceito e falta de conhecimento da sociedade. Para quem recebe o diagnóstico tardiamente, as dificuldades são enormes: entender a si mesmo, reconstruir a própria história e lidar com uma vida que muda de uma hora para a outra pode ser desafiador e doloroso.
Esse tema precisa ser falado com urgência, porque as pesquisas mostram que a taxa de suicídio entre autistas adultos nível 1 de suporte é extremamente elevada. Falar sobre isso é lutar por mais compreensão, acolhimento e políticas que enxerguem essas vidas que muitas vezes seguem invisíveis.
O que fazemos
a) Palestras sobre prevenção ao suicídio, depressão, crises de ansiedade, redes de apoio e autismo em adultos.
b) Rodas de conversa, criando espaços seguros para acolher e escutar quem está enfrentando a dor – seja pessoal ou como familiar ou amigo.
c) Projetos sob medida para cada contexto: corporativo, acadêmico, educacional, religioso, de saúde ou social.
d) Conteúdo em redes sociais – onde já alcançamos milhares de pessoas, levando informação de forma leve e acessível — e oferecendo acolhimento online, para quem se conecta com esse conteúdo trazendo dores reais e precisa ser ouvido de verdade.
Nossa missão
Oferecemos acolhimento e esperança para quem enfrenta depressão, ansiedade, pensamentos de desistir, quem já tentou, familiares e sobreviventes.
Seja no espaço virtual ou no encontro presencial, nossa fala é marcada pela proximidade, verdade e ausência de julgamentos.
Não falo de teorias — falo da minha vida. Passei pela escuridão que muitos nem conseguem nomear.
E é essa vivência que dá autenticidade à mensagem e força à palavra: porque eu sei o que significa lutar todos os dias para seguir existindo.
O “De volta para a vida” mostra que, mesmo quando tudo parece perdido, ainda há chance de recomeçar. Não é sobre final feliz — é sobre continuar escrevendo a sua história.