O descontentamento com o ativismo, ao menos tratando-se da causa autista, vem tomando grandes proporções. Lideranças distintas tem levantado a voz para tomar conta de um cenário impossibilitado de se ter um único representante, se é que há como ter um representante.
Vejo o ativismo dividido em subgrupos, mas não vislumbro algo além de uma militância coercitiva. Preocupo-me e indago-me, pelo pouco tempo que faço ativismo e as grandes proporções que minhas sensacionalistas publicações tomaram, com o futuro de uma luta que hoje é banhada ao que se é convencional, mas não para a causa e sim para si próprio.
Trago-os uma reflexão, se lutamos tanto contra o capacitismo, porque muitos passam a presumir incapacidade a membros da própria comunidade ao tratarem os mesmos como seres providos a pureza? A realidade é que posso até estar sendo ignorante, mas me enoja tamanha hipocrisia, enquanto os colossais se calam, os idólatras ajoelham-se perante aos próprios, faltam-lhe coragem, é mais fácil dilacerar aqueles que não irão tecer contrapontos a argumentos falhos e ofensivas rasas. Judy Singer cunhou a neurodiversidade, e parafraseou dizendo que o movimento não possuía lideranças, mas era formado por protagonistas e antagonistas.
O movimento da neurodiversidade é plausível e até mesmo sensato, mas há uma inversão de valores quando atualmente vemos antagonistas denominando-se protagonistas, colocando-os como líderes de um movimento e/ou discurso sem lideranças, e fazendo tudo aquilo que Judy Singer nunca quis, transformando a neurodiversidade em uma mercadoria.
O ativismo é uma solução, mas ele precisa ser pragmático em todas as suas vertentes, não houve um movimento que alcançou a prosperidade sem diálogo, e eu como autista, preciso dizer… É preciso resignificar o ativismo autista, ou o futuro será uma guerra interminável sem razão ou caminho.
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Ativismo coercitivo
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Wallace de Lira
Autista, ativista, estudante de psicologia, escritor e diretor do Autistas Alvinegros
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