Abaixo, 8 lições que o diagnóstico de autismo aos 40 anos me deu:
1) NOSSOS FILHOS SÃO GRANDES MESTRES
Foi observando meu filho e investigando o espectro nele que identifiquei inúmeros traços do autismo em mim mesmo e aprendi a me amar por inteiro e acolher minha neurodiversidade
2) NÃO ERA TIMIDEZ
Não era timidez quando eu não queria festa de aniversário durante toda a minha infância e adolescência e até hoje evito o máximo possível qualquer situação social onde eu seja o centro das atenções. Era o autismo.
3) DIAGNÓSTICO NÃO É SENTENÇA
Diagnósticos dizem que autistas não são sociais e eu sou facilitador de grupos reflexivos, afirmam que autistas não falam em público e eu sou palestrante, declaram que autistas evitam situações inesperadas e fora do controle e eu sou professor na escola pública.
4) POSSO SER O QUE EU QUISER
Meu desafio mais recente foi dirigir mesmo com tantos estímulos simultâneos como buzinas, barulhos, fechadas, pessoas atravessando correndo e tantas outras coisas acontecendo. Inclusive as estatísticas afirmam que autistas e pessoas com TDAH se envolvem em muitos acidentes de trânsito. Mas meu diagnóstico me ensina a me desafiar e acolher minhas dificuldades corajosamente.
5) NÃO FOI CULPA MINHA
Não foi culpa minha quando eu não quis dançar no bailinho de carnaval com a fantasia nova que a minha mãe comprou aos meus oito anos. Não foi desfeita, mãe! Foi o autismo. Festas e lugares lotados sempre foram um desafio pra mim! Não foi culpa minha cada vez que me irritei por conta do TDAH sem tratamento e nem quando eu quis expressar meu amor e não tive palavras, gestos, expressões ou meios de externar o que eu sentia. Era o transtorno do espectro autista.
6) NÍVEL DE SUPORTE NÃO É DETERMINANTE
Por favor, nunca pensem que a vida de um autista nível 1 de suporte é mais fácil. A expressão “autismo leve” deveria ser apagada da nossa língua. Eu posso te garantir que não tem nada de leve em querer conversar com colegas de trabalho e não conseguir, idealizar uma declaração de amor e não conseguir dizer uma palavra ou querer expressar admiração por alguém e simplesmente travar na hora.
7) ACIMA DE TUDO, SOU UMA PESSOA
Sou uma pessoa autista com TDAH e dislexia, mas, antes disso, sou uma pessoa. Olhar para mim é enxergar o autismo. TDAH ou dislexia não me apaga, me anula e afasta. Pensando nisso, entendo muitos conhecidos autistas que ainda relutam em revelar o diagnóstico a amigos, colegas de trabalho e até mesmo parentes.
8) É PRECISO UMA ALDEIA INTEIRA
O provérbio africano diz que é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança, e eu digo que é preciso uma aldeia inteira para acolher um adulto. É por isso que faço parte de vários coletivos, grupos de apoio e grupos reflexivos, como o Quem Cuida de Quem Cuida, realizado pelo SESC Piracicaba. Além do coletivo Pais Pretos, faço parte do Coletivo Pais Atípicos, do Portal Mundo Homem, do grupo Adultos no Espectro, do Projeto Luz Para Minha Vida, do grupo Respeito Todo Dia e tantas outras frentes que não cabem aqui. É como diz um outro provérbio africano que eu amo: “Sozinho, vamos mais rápido. Juntos, vamos mais longe”.