20/06 | 2 anos de Coletivamente

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O dia que não acaba

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Hoje é 2 de abril, Dia Mundial da Conscientização do Autismo.

Lá fora, os monumentos se iluminam de azul, as redes sociais se enchem de mensagens bonitas sobre respeito e inclusão. Mas aqui, dentro das nossas casas, dentro das nossas rotinas exaustivas, é só mais um dia.

Mais um dia em que acordamos antes do sol, preparamos a mochila cheia de terapias, organizamos uma rotina que nunca cabe no tempo e tentamos, de todas as formas, garantir que nossos filhos tenham o mínimo do que precisam. Mais um dia em que nos equilibramos entre ser mãe, professora, mediadora, terapeuta, advogada e, muitas vezes, escudo contra um mundo que insiste em não enxergar nossos filhos como sujeitos de direitos.

Hoje, como em qualquer outro dia, uma mãe sentou na recepção de uma clínica e ouviu que o plano de saúde negou a terapia novamente. Outra recebeu uma ligação da escola avisando que não tem professor de apoio. Outra chorou sozinha no carro depois de mais uma reunião onde tentaram convencê-la de que o filho “não se adapta”, como se a responsabilidade da inclusão fosse da criança e não do sistema.

Hoje, como em qualquer outro dia, um menino foi hostilizado no parquinho porque “não brinca direito”, uma adolescente foi isolada na escola porque “não conversa como os outros”, uma família recebeu um diagnóstico e, junto com ele, o medo do futuro.

E hoje, como em qualquer outro dia, uma mãe descobriu que seu filho foi agredido dentro da escola. No espaço que deveria acolhê-lo, protegê-lo, ensiná-lo. Mas em vez de segurança, ele encontrou violência. Em vez de compreensão, encontrou dedos apontados. E quando essa mãe foi buscar ajuda, disseram que ele “provocou”, que ela “exagera”, que talvez fosse melhor ele estudar em casa.

Hoje, como em qualquer outro dia, uma mãe, em algum lugar, pensou em desistir. Porque cansa. Porque o peso de lutar todos os dias por algo que é garantido por lei esmaga a alma. Porque a solidão de carregar o mundo nas costas enquanto ouve “você é forte” machuca.

O autismo não é o problema. Nunca foi. O problema é a sociedade que exclui, o Estado que negligencia, o plano de saúde que nega, a escola que segrega, os espaços que deveriam proteger, mas machucam. O problema é a falta de escolha, a falta de respeito, a falta de humanidade.

Não, hoje eu não tenho o que comemorar. Mas tenho pelo que lutar. Muito. Mesmo exausta. Mesmo doendo. Mesmo que ninguém veja.

Que hoje não seja sobre balões azuis e discursos vazios. Que hoje seja sobre enxergar. Sobre escutar. Sobre entender que inclusão não é favor, é direito. Que respeito não é campanha, é atitude.

Que hoje seja sobre mudança. Sobre consciência real. Sobre entender que nossos filhos não precisam ser aceitos porque têm autismo. Eles precisam ser respeitados porque são seres humanos.

E ser humano deveria bastar.

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