Receber o diagnóstico de autismo do nosso filho é como abrir uma caixa de presente esperando encontrar algo que imaginávamos com carinho e expectativa. Pensamos que ao puxar o laço, veríamos algo familiar, acolhedor, aquilo que sonhamos por tanto tempo. Mas, ao invés disso, nos deparamos com um quebra-cabeça, com milhares de peças de formatos únicos e inesperados. A princípio, surge a surpresa, depois, a incerteza e, por fim, o medo. Como iremos juntar essas peças e formar uma imagem, quando o que planejamos agora parece distante e fragmentado?
Sonhamos com um caminho bem traçado, onde cada passo seria previsível e seguro. Imaginamos as primeiras palavras, as brincadeiras com os amigos, as fetinhas escolares, os sorrisos espontâneos e os abraços apertados. Era um percurso que visualizamos inúmeras vezes, com sinais claros apontando a direção. Mas, com o diagnóstico, esse caminho se dissolve diante dos nossos olhos, e, de repente, nos encontramos em uma trilha dentro de uma floresta densa, envolta em neblina, com árvores altas que escondem o horizonte.
Nos primeiros momentos, sentimos como se estivéssemos paralisadas, presas ao medo e ao luto. Não é um luto por uma perda concreta, mas pela expectativa de uma vida que sonhamos e que, agora, não será do jeito que imaginávamos. A floresta parece escura e repleta de sons desconhecidos. Não vemos atalhos e, a cada passo, parece que nos afastamos mais daquela “tipicidade” que nos ensinaram a desejar. A sensação de desorientação é avassaladora, e em certos momentos, tudo o que queremos é voltar para o ponto de partida, para o caminho seguro que, aos nossos olhos, parecia tão certo.
Mas, com o passar dos dias, algo começa a mudar. Aos poucos, aprendemos a olhar para os detalhes ao nosso redor. Descobrimos que o som das folhas se movendo com o vento pode ter uma melodia suave e reconfortante. Que entre os galhos surgem flores de cores vibrantes, e que pequenas criaturas atravessam a trilha, nos lembrando de que a beleza pode surgir mesmo onde não esperávamos encontrar. Percebemos que, ao aceitar que nosso caminho será feito de curvas e desvios, podemos descobrir uma outra forma de luz, que não vem de um sol previsível, mas dos pequenos vagalumes que iluminam o trajeto à medida que avançamos.
Aos poucos, passamos a celebrar cada pequena conquista, cada passo à frente, como se fossem peças finalmente encaixadas nesse quebra-cabeça tão especial. Não é fácil, e há dias em que a imagem completa parece impossível de ser visualizada. Mas cada vitória, por menor que seja, revela que esse novo caminho, embora diferente do planejado, é repleto de maravilhas que nunca poderíamos ter imaginado. As curvas inesperadas nos ensinam sobre resiliência, os obstáculos revelam nossa força interior, e as paisagens desconhecidas despertam em nós uma coragem que nem sabíamos ter.
A verdade é que aquele luto inicial, embora ainda faça parte de nós, se torna menor diante da beleza que descobrimos em cada passo dessa jornada. Aos poucos, entendemos que o quebra-cabeça que estamos montando não é menos belo ou significativo – ele é, simplesmente, diferente. E percebemos que, muitas vezes, o que realmente importa não é alcançar uma imagem perfeita, mas viver intensamente cada momento, honrar cada pequena peça e celebrar cada nova descoberta.
No fim, nos damos conta de que essa jornada, que começou com incertezas e lágrimas, nos levou a uma vida mais rica e profunda do que jamais poderíamos ter sonhado. Não trocaríamos essa trilha sinuosa, essa floresta cheia de mistérios e essas peças únicas por qualquer caminho previsível. A verdadeira beleza não está em chegar a um destino idealizado, mas em aprender a caminhar com o coração aberto para as surpresas da vida – e descobrir que, mesmo no inesperado, há espaço para a felicidade, a esperança e um amor que não conhece limites.
Para nós, mães, essa jornada nos mostra que, sim, podemos encontrar um novo tipo de encantamento. Juntas, seguimos desbravando essa floresta, iluminando nosso caminho com a luz dos vagalumes e descobrindo que, por trás de cada folha e de cada curva, existe algo extraordinário esperando para ser visto, amado e valorizado… O NOSSO FILHO!
Até a próxima!