20/06 | 2 anos de Coletivamente

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A carta de Wallace de Lira

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Foi no dia 5 de outubro de 2025, em uma manhã calorosa, exatamente às 9h30m que Wallace de Lira subiu no palco principal do Pavilhão 5 da Expo São Paulo. E não subiu à toa, subiu para fazer história no Congresso Espectro 2025.

O ativista que há meses passa por um período de depressão e desgaste emocional, honrou o compromisso que para ele não era com a burocracia, mas com o público. Além de quase 5 mil pessoas no ambiente lotado, as visualizações virtuais também se rendiam ao espetáculo.

Wallace subiu ao palco para superar expectativas. Um homem que já esteve entre os sete maiores do mundo no Instagram, com apenas 26 anos enfrentava um trauma psicológico terrível. Foi, sem dúvidas, o maior desafio da carreira dele. Mas quem ousaria duvidar? Ele mesmo já disse: “Eu não recuo, eu recarrego”. E ele recarregou. Não somente a si, como as 5 mil pessoas que não presenciaram somente uma palestra, como também um verdadeiro espetáculo.

Quando Wallace foi anunciado, apareceu de braços abertos, como se estivesse puxando o público para um encontro que ele mesmo definiu que seria épico. E ele começou como sempre, falando sobre sua trajetória. Wallace emocionou o público logo de cara, contando a sua trajetória de vida. Entre piadas e explicações bem humoradas, soltou frases como:

“Eu já tive namoradas, mas falhei. Acho que não sou bom com garotas”.
“Perdoem o próximo, por mais que ele seja insuportável”.
“Podem falar mal de mim, mas não falem da minha família e nem do Corinthians”.
“Eu sou um cara muito bonito”.

E a cereja do bolo foi quando Wallace incendiou o público ao pregar um discurso contra o sistema político:

“Não me posiciono porque eu não acredito no sistema político, o estado é falho. Eles fazem a obrigação deles como se estivessem prestando um favor.”

Mas para apagar as velas desse bolo que estava saboroso. Wallace de Lira provou duas coisas: em 2024 ele foi eleito merecidamente como um dos maiores do Brasil e do mundo. E que mesmo em depressão, ele sabe fazer uma palestra impecável. Essa no caso, foi a maior da história dele. Será difícil superar.

Wallace abriu uma carta aberta, se sentou no palco sob as luzes das lanternas ligadas do público e leu um manifesto de amor para sua mãe e sua vó. Ele chorou e se emocionou profundamente. Levando o público ao auge da emoção. As fotos de sua palestra provaram isso por si só: lágrimas e mais lágrimas. Uma moça precisou de água por conta do conteúdo da carta. Outras mães choravam de esperança em um espetáculo protagonizado não por Wallace. Mas pela comunidade presente. O público pagante. A comoção foi tão grande que atingiu seu ápice quando o ativista estendeu uma camisa escrito “lute como uma mãe de autista” e a jogou para o povo. Após isso, Wallace pegou uma camisa e sob câmeras e olhares, se jogou no meio da galera, deu mais uma camisa e saiu distribuindo presentes autografados. E encerrou agradecendo a Deus e ao público. Ele se ajoelhou e levanto as mãos para o céu. Sendo ovacionado por uma plateia ainda em êxtase.

Após isso, Wallace foi para o espaço black do Congresso Espectro, visivelmente emocionado e abraçado com sua vó, Amora. Ele deu uma entrevista com a presença de congressistas e declarou:

“Nunca foi sorte, sempre foi Deus. Eu disse que me doaria e daria a vida, eu fiz isso. Não por fama, sempre odiarei holofotes. Mas pela causa. Eu tenho autismo e ali tinham milhares de autistas e famílias atípicas. Eu não sou o protagonista, eles são. Essa foi a palestra mais épica da minha vida.”

Após isso, Wallace passou o dia tirando fotos e agradecendo seus seguidores. E declarou nas redes que chegou a ser bloqueado por ter atingido o limite de repost. Hoje, o seu nome está em alta, com edits sobre sua palestra, fotos do momento e milhares de homenagens. Com direito a especialistas comentando sobre o impacto desse momento. Wallace certamente nunca irá esquecer, mas ao chorar pelo amor de sua mãe e sua vó, ele fez com que milhares de pessoas chorassem juntos. E o congresso espectro, com seu elenco de peso, fez mais uma estrela brilhar.

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Essa seria a reportagem que faria sobre mim se eu fosse um jornalista. Pois tudo isso que aconteceu foi verdade. Eu amo ser ativista. Não por fama, porque eu odeio isso. Odeio o submundo da fama. Mas pelo povo, pelas famílias atípicas e para ajudar outros autistas a não passarem pelo que passei. Obrigado Congresso Espectro, por me mostrar que eu ainda posso render muito e, mesmo em depressão, eu consigo me reerguer. Obrigado ao meu amigo Marlon, sem o Coletivamente, eu nunca chegaria até aqui. Obrigado, Deus!

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