A infância é efêmera. Como um sopro, ela se dissolve diante dos nossos olhos, deixando apenas memórias que, para algumas crianças, nunca foram verdadeiramente vividas. Para as crianças atípicas, o tempo é ainda mais cruel. Ele não espera pelos processos de inclusão, pelas lutas em tribunais, pelas tentativas exaustivas de encaixá-las em um mundo que insiste em ser estreito demais para acolher suas diferenças. E cada segundo que se perde nesse embate desigual não volta mais.
Aquele convite para o aniversário que nunca chegou. O espaço vazio nas festas da escola. A ausência nos encontros com os amigos, nas brincadeiras de grupo, nos passeios que deveriam ser repletos de risadas e descobertas. A infância passa enquanto a sociedade hesita, enquanto a burocracia demora, enquanto os olhares carregados de julgamento afastam e excluem.
Não se trata apenas da criança que não foi chamada para a festa de pijama ou que ficou de fora do mundo imaginário dos colegas. Trata-se da dor do não pertencimento, da angústia de uma mãe que assiste à infância do filho escorrer pelos dedos como areia. Ela, que tenta incansavelmente justificar comportamentos, explicar reações, traduzir um universo que muitos se recusam a compreender. Ela, que também é excluída do círculo das mães, da conversa casual no portão da escola, dos convites para o café. Porque não é só a criança que não é incluída; a família inteira é empurrada para o isolamento.
Dor que ecoa em todos
É um ciclo cruel. A criança que cresce sem ser vista, sem ser aceita, sem amigos, carrega essa dor. E essa dor ecoa em sua mãe, em seu pai, em seus irmãos. É o silêncio das conversas que nunca aconteceram. É a ausência de fotos felizes na estante, de histórias para contar. É a ferida de uma infância vivida à margem, enquanto o mundo continua girando, alheio, indiferente.
E até quando? Até quando será aceitável que crianças percam momentos únicos, que jamais poderão ser recuperados, por falta de inclusão? Até quando mães e pais precisarão lutar sozinhos contra o tempo, contra o preconceito, contra um sistema que deveria acolher, mas que repele?
A infância não espera. Ela é o palco das primeiras amizades, das primeiras descobertas, da formação do que seremos para sempre. Quando a inclusão falha, não é só uma fase que é perdida. É uma vida inteira que começa marcada pela dor do que poderia ter sido e nunca foi.
Como sociedade, temos o dever de acolher não só as crianças atípicas, mas também suas famílias, estendendo a elas um senso de comunidade e pertencimento. Não basta ter políticas públicas ou diretrizes escolares; é necessário que cada um de nós, enquanto cidadãos, olhe com empatia e abra espaços reais para a convivência e a aceitação. A inclusão começa no olhar que acolhe, na conversa que desarma preconceitos, no convite sincero que abre portas.
Somos responsáveis por construir um mundo onde nenhuma infância seja desperdiçada, onde nenhuma mãe precise se justificar, onde nenhuma criança precise temer ser quem é. Quando apoiamos uma família atípica, não estamos apenas transformando a vida dessas pessoas — estamos contribuindo para uma sociedade mais justa, humana e rica em diversidade. O impacto de uma inclusão genuína vai muito além do presente; ele reverbera por gerações, construindo um futuro onde a diferença não separa, mas conecta.