Conviver com o TDAH é um exercício diário de paciência, compreensão e empatia — com o outro e com nós mesmos. Quando meu filho recebeu o diagnóstico, comecei a perceber que aquilo que muitos chamavam de “manias” eram, na verdade, sinais de um cérebro que funciona de um jeito diferente. Esquecer onde colocou as coisas, interromper alguém no meio da fala, começar uma tarefa e logo se distrair com outra, fala sozinho, fica enrolando ou arrancando o cabelo,… Nada disso é falta de educação ou desinteresse. É o TDAH se manifestando no cotidiano, e não é nada fácil lidar com tudo isto como às vezes parece, nem para quem tem o diagnóstico e nem para quem convive.
O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta o controle da atenção, do tempo e dos impulsos. Ou seja, não é que a pessoa “não queira” se concentrar, mas sim que o cérebro dela não regula a atenção da mesma forma que o de uma pessoa neurotípica. Às vezes o foco se dispersa rápido demais; em outras, o hiperfoco toma conta — e aí é difícil tirar a pessoa daquela atividade que despertou tanto interesse.
Essas oscilações podem parecer confusas, principalmente para quem observa de fora. Mas, quando a gente entende o que está por trás, tudo começa a fazer mais sentido. Aquele esquecimento constante, a dificuldade em esperar, a bagunça no quarto, o balançar das pernas ou mudar de posição o tempo todo, a dificuldade em seguir uma rotina ou a impulsividade nas respostas não são “manias ruins”. São parte de um funcionamento cerebral que exige estratégias diferentes, e não apenas broncas ou cobranças.
Com o tempo, percebi que o TDAH não se trata apenas de atenção — envolve também o campo emocional. As pessoas com o transtorno costumam sentir tudo de forma mais intensa. Um elogio pode fazer o dia brilhar; uma crítica, por menor que seja, pode parecer o fim do mundo. E é nesse equilíbrio entre razão e emoção que muitas famílias (como a minha) aprendem a se reinventar.
Se entendermos o TDAH como um “vulcão”, na superfície vemos os comportamentos que “explodem” — a desorganização, a procrastinação, a frustração. Mas por dentro, no que não se vê, há dor, ansiedade, baixa autoestima, insegurança e cansaço. Tudo isso se acumula até o momento em que transborda. E é nesse ponto que o acolhimento faz toda a diferença: em vez de apagar o fogo, o ideal é entender o que o alimenta.
