20/06 | 2 anos de Coletivamente

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Autismo, fama, depressão

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Hoje eu estou aqui novamente para falar sobre a minha rejeição à fama, minha condição e a depressão. Pela milésima vez. Mas agora, de uma forma diferente. Vou sanar uma curiosidade de muitos: como o Wallace de Lira, sendo autista, lida com a visibilidade?

Esse texto é através da perspectiva de um ativista.

Bom, eu comecei a criar conteúdo sobre a condição em que nasci, em 2022. E eu não esperava crescer tão rapidamente nas redes sociais.

Estamos em 2025 e eu tenho uma página na Wikipédia, meu nome reconhecido por instituições públicas, mais de 130 mil seguidores, participação em eventos nacionais, fui premiado internacionalmente pela Favikon como uma dos sete maiores do mundo na categoria masculina do ativismo pela neurodiversidade e o mais espantoso foi quando em um evento, um estande adaptou uma espécie de telas em um varal, minha foto estava lá. Me enviaram e eu fiquei surpreso, mas grato por tanto carinho.

Definitivamente, não há como imaginar que você construa uma carreira sólida com apenas 26 anos e o Coletivamente, que me proporciona liberdade total para conteúdo, é o meu diário virtual público. Eu sou muito grato a tudo isso, sou muito grato por tudo o que as pessoas fazem por mim. O carinho que elas me mandam diariamente, as orações, as fotos que pedem para tirar comigo e o esforço de todas para me verem palestrar. Vocês me agradecem, mas eu que devo agradecer vocês. A reverência é da minha parte, tenho total respeito e amor pelos meus seguidores e admiradores, engajados e orgânicos, estão no meu coração.

Mas ainda assim, eu sou o Wallace de Lira diagnosticado com autismo, depressão e ansiedade. E eu tenho muito a amadurecer na minha vida, reconheço isso. Todos os dias eu luto contra a depressão. Há dias bons e dias ruins, e pela primeira vez estou me emocionando ao escrever e externando publicamente. Mas sabe o que é você viver todos os dias com algo que tenta te colocar para baixo? É difícil. Eu acordo, coloco meus fones no ouvido, minhas roupas pretas e confortáveis, pego o transporte público como um cidadão comum e vou até a faculdade. Volto para casa e coloco a mão na massa. Apesar das pessoas pensarem que eu esbanjo por ter visibilidade, eu sou um cara humilde e não gosto do mundo das celebridades ou subcelebridades, não é minha intenção. Eu sofro com isso também, porque volta e meia aparecem pessoas para me ofender por discordâncias, tentar me destruir… Afinal, quem não gostaria de derrubar um cara que fala o que eles não querem ouvir, né?

E então entram as consequências. Um cara simples e humilde que nunca quis viver com holofotes sobre a cara, sendo obrigado a lidar com uma fama natural da qual ele tem gratidão, mas pagando o preço pela covardia de haters que não entendem o que é ser autista e ter depressão, ouvindo tantas covardias.

Chegaram a xingar minha mãe para me atingir. Tem noção disso? É surreal como as pessoas conseguem ser desprezíveis e fazem esforço para isso.

Por isso eu digo e sempre reitero: que bom ter visibilidade, que bom ser premiado. Mas não esperem de mim que eu vá ser outra pessoa ou aceitar todos os convites midiáticos. Eu tenho limitações por conta do autismo, vivo em oscilação por conta da depressão e a felicidade de ter um público fiel que nutro enorme gratidão.

Deus tem me abençoado e não me deixado ficar no chão quando caio, minha família se transformou em pilar para que a solidão não me consuma e meus admiradores se tornaram minha base. E mesmo muito cansado, se me permitem uma metáfora: o Wallace de Lira não vai desistir. Ele vai continuar lutando. Porque ele não quer mídia, ela não quer problemas, ele quer solucionar, ele quer resolver. Por ele, pelos autistas e pelas famílias atípicas.

Tomem muito cuidado com suas interações nas redes, principalmente quando se trata de pessoas vulneráveis. Você pode destruir uma vida com apenas uma palavra. A internet lhe dá o direito à liberdade, mas também a penitência de arcar com as consequências dela.

Que Cristo abençoe todos os autistas que criam conteúdo. Eu sei que divergimos e muitos não me admiram. Mas eu valorizo vocês, porque temos o mesmo objetivo e eu sei que não é fácil.

E Marlon, obrigado por me dar voz pública em colunas através do Coletivamente. Você é um amigo que eu considero muito, tenho gratidão e respeito ao Coletivamente.

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