20/06 | 2 anos de Coletivamente

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Já ouviu falar sobre masking ou mascaramento social no espectro do autismo?

Masking (do inglês Mascaramento) é o esforço que pessoas no TEA fazem, de forma consciente ou inconsciente, para mascarar suas características e apresentar uma topografia comportamental “menos autista” para tentar se encaixar em situações sociais.

É uma estratégia que envolve um tremendo esforço para tentar assimilar e aprender comportamentos considerados “típicos”, para compensar e camuflar (mascarar) suas próprias características relacionadas ao TEA.

O Masking no TEA começou a ser investigado nos últimos anos, primeiramente, com meninas e mulheres no espectro autista,  através de pesquisas qualitativas analisando experiências de autorrelato, principalmente, para investigar a razão que levava a um diagnóstico tardio em mulheres.

O Masking, utilizado como estratégia, é uma das teorias que pode explicar os diagnósticos mais tardios e menos frequentes em mulheres do que homens. (Begeer et al.2013; Giarelli et ai.2010)

Tentar parecer

Uma pesquisa qualitativa feita por Dean et al.2017, mostra no relato de meninas e mulheres autistas temas que envolvem esconder ou se esforçar para tentar parecer uma pessoa não autista.

Os relatos de meninas e mulheres autistas são de que copiando comportamento de pessoas não autistas e controlando suas próprias características, isso “ajuda” a lidar com algumas dificuldades sociais e de comunicação.

Essa pesquisa também mostrou que há consequências negativas na camuflagem como: índices de estresse elevado, problemas de saúde mental, exaustão e falta de acesso a suporte ou serviços de saúde especializados, como consequência de ocultar suas próprias dificuldades.

Nos últimos anos, algumas pesquisas também tentam criar uma medida para avaliar e quantificar a camuflagem social.

Referencias:

BEGEER, Sander et al. Sex differences in the timing of identification among children and adults with autism spectrum disorders. Journal of autism and developmental disorders, v. 43, n. 5, p. 1151-1156, 2013.

DEAN, Michelle; HARWOOD, Robin; KASARI, Connie. The art of camouflage: Gender differences in the social behaviors of girls and boys with autism spectrum disorder. Autism, v. 21, n. 6, p. 678-689, 2017.

GIARELLI, Ellen et al. Sex differences in the evaluation and diagnosis of autism spectrum disorders among children. Disability and health journal, v. 3, n. 2, p. 107-116, 2010.

Existe um instrumento chamado  Camouflaging Autistic Traits Questionnaire – CAT-Q. (Questionário de traços de camuflagem autista), que foi criado com base em reflexões de adultos autistas, e foi psicometricamente examinado e validado (não no Brasil) no estudo de Hull, Laura, et al (2019).

Desenvolvido para ser aplicado em Adultos (maior de 16 anos ) com inteligência média a superior.

O CAT- Q, mede o grau em que uma pessoa se utiliza de estratégias de camuflagem, com uma escala com 25 itens divididas 3 subcategorias:

Compensação — Estratégias usadas para compensar dificuldades em situações sociais

Mascaramento — Estratégias usadas para esconder as próprias características ou parecer não autista.

Assimilação — Estratégias usadas para tentar se encaixar com outras pessoas em situações sociais.


A escala oferece sete opções de autodeclaração variando de 1 (Discordo Fortemente) até 7 (Concordo totalmente).

1 – Quando eu estou interagindo com alguém eu, deliberadamente, copio suas expressões faciais e linguagem corporal?

2 – Eu aprendo como as pessoas usam seu corpo, assistindo à TV ou a filmes ou lendo e uso esse conhecimento para interagir na minha vida real.

3 – Tento melhorar minha compreensão sobre habilidades sociais, observando outras pessoas.

4 – Repito frases que ouvi os outros dizerem, exatamente da maneira que os ouvi dizendo pela primeira vez.

5 – Eu pratico minhas expressões faciais e linguagem corporal e me esforço para que elas pareçam naturais.

6 – Passei tempo aprendendo habilidades sociais em programas de TV e filmes e tento usar nas minhas interações.

7 – Nas minhas interações sociais, uso comportamentos que aprendi vendo outras pessoas interagindo.

8 – Pesquisei regras sobre interações sociais para melhorar minhas próprias habilidades sociais.

9 – Desenvolvi um roteiro pra seguir em interações sociais.

10  – Eu monitoro as minhas expressões faciais e linguagem corporal para parecer relaxado (a).

11 – Eu ajusto as minhas expressões faciais e minha linguagem corporal para parecer relaxado (a).

12 – Eu monitoro as minhas expressões faciais e linguagem corporal para parecer interessado (a) na pessoa que estou interagindo.

13 – Eu ajusto as minhas expressões faciais e linguagem corporal para parecer interessado (a) na pessoa que estou interagindo.

14 – Eu não sinto necessidade de fazer contato visual com outras pessoas, se eu não quiser.

15 – Nas interações sociais, eu não presto atenção no que meu rosto e corpo estão fazendo.

16 – Eu sempre penso da impressão que quero causar nas outras pessoas.

17 – Eu estou sempre consciente da impressão que causo nas outras pessoas.

18 – Raramente sinto necessidade de representar para passar por uma situação social.

19 – Quando falo com outras pessoas, sinto que a conversa flui naturalmente.

20 – Quando estou em situações sociais, tento encontrar maneiras para não interagir com os outros.

21 – Em situações sociais, sinto que eu estou representando ao invés de ser eu mesmo (a).

22 – Eu tenho que me forçar a interagir com as pessoas quando estou em situações sociais.

23 – Em situações sociais, sinto que estou fingindo ser “normal”.

24 – Preciso e apoio de outras pessoas para socializar.

25 – Eu me sinto livre para ser eu mesmo (a) quando estou com outras pessoas.

Em resumo (de forma muito superficial), discordar dos itens: 14, 15, 19 e 25 e concordar com a maior parte dos outros itens, é sinal de excesso de gasto de energia para tentar se socializar e forte recomendação para investigação mais aprofundada de hipótese de TEA. Pesquisas sugerem que quanto maior a camuflagem, piores são os índices de qualidade de saúde mental.

Referencias:

Development and Validation of the Camouflaging Autistic Traits Questionnaire (CAT-Q) (Hull et al., 2018)

Gender differences in self-reported camouflaging in autistic and nonautistic adults (Hull et al., 2019)

DEAN, Michelle; HARWOOD, Robin; KASARI, Connie. The art of camouflage: Gender differences in the social behaviors of girls and boys with autism spectrum disorder. Autism, v. 21, n. 6, p. 678-689, 2017.

Referencia: HULL, Laura et al. Development and validation of the camouflaging autistic traits questionnaire (CAT-Q). Journal of Autism and Developmental Disorders, v. 49, n. 3, p. 819-833, 2019.

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