20/06 | 2 anos de Coletivamente

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Muitos ditos, muitos mitos: vamos derrubar alguns ‘muros’?

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Muitos ditos, mitos populares e frases feitas fazem parte do nosso cotidiano. Em certas ocasiões, cabem como conselhos ou algo apenas como um senso comum criado por um consciente coletivo. E, de tantas vezes repetido e reproduzido a cada geração, fica cada vez mais enraizado em nossa mente.

Pois bem, alguns mitos e determinadas frases são oriundos de relatos distorcidos ou sem fundamentos. Outros possuem uma fonte confusa, cheios de preconceitos culturais enquanto que provavelmente algum fato real possa ter dado origem ao mito, enquanto a fantasia, preconceito, falta de informação e de formação deram conta de formular estas frases simples que parecem dizer o que todos querem ouvir. Talvez por serem mais cômodas e simplificarem algo extremamente complexo em bordões e verbetes que não ajudam a solucionar ou elucidar absolutamente nada.

Os transtornos globais de desenvolvimento, assim como acontece com os transtornos mentais, são cercados de mistérios, mitos, estereótipos, frases do imaginário popular. E o Transtorno do Espectro Autista, que é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, possui um espectro amplo e complexo que engloba diferentes graus e diversas comorbidades, além de diagnóstico tardio ou confuso, mesmo atualmente, não poderia escapar destes mitos e frases prontas.

Boa intenção não basta

Quando alguém se refere ou se dirige a uma criança com o transtorno do espectro autista, geralmente essa pessoa vem imbuída de boas intenções, mas o faz geralmente com base neste consciente coletivo que carrega toda a problemática dos mitos e mistérios.

Uma frase popular, em especial, não traz qualquer benefício aos envolvidos, sejam as pessoas com a síndrome, familiares ou profissionais. Mas essa expressão é extremamente aceita, difundida e utilizada: “Ele é feliz no mundo dele”, embora tenham variações, o cerne mais simples é este.

Esta frase não é popular por acaso, muito dela vem dos conceitos iniciais sobre o autismo, pelo qual a própria palavra, que tem origem no grego, significa “de si mesmo” ou “próprio”.

Particularidades

Como o espectro autista possui em suas características distúrbios sociais, padrões de comunicação estereotipados e repetitivos, o pedagogo Cézar Tavares conceitua o autismo no segundo slide da apresentação intitulada: Transtorno do Espectro Autista. A Lei 12.764/2012 reconhece o autismo como deficiência, dizendo que: “A criança autista parece em si mesma, pouco reagindo ao mundo que a rodeia”. O autismo significa que o mundo não faz sentido. O mundo não forma padrões necessários de símbolos interligados que torna a vida compreendida para eles. As experiências sensoriais chegam à mente a toda hora como uma língua estranha que ela nunca ouviu”

Assim como qualquer um, uma criança ou mesmo adulto dentro do espectro precisa de alguma forma se comunicar e participar da vida de seus familiares e amigos. Para tal, precisam de uma série de exames, medicamentos e tratamentos multidisciplinares para ajudar a se desenvolverem em relação aos aspectos sociais, emocionais e cognitivos, buscando desenvolver suas habilidades de controle sensorial.

Os tratamentos e as buscas de alívio e desenvolvimento precisam ter a intensidade e carga horária semanal corretos, assim como os medicamentos necessários, muitas vezes por conta das comorbidades associadas.

Então, dizer que a criança é “feliz no mundo dela” mata tudo o que se deve fazer a respeito. Não é assim que o espectro funciona, muito pelo contrário: os desequilíbrios sensoriais e o afastamento social por dificuldades de comunicação e muitas vezes atrasos cognitivos causam grande dor e sofrimento, englobando seus familiares e amigos.

Quanto mais misteriosas e confusas são as fontes desses mitos, simplistas e rasos, com desinformação e preconceitos, piores são os efeitos para todos os envolvidos em realmente ajudar a melhorar a qualidade de vida e a buscar maior autonomia para as pessoas diagnosticadas dentro do espectro autista.

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