Você já ouviu falar em masking ou camuflagem social?
Esse é um dos assuntos mais importantes quando falamos de autismo feminino e também um dos motivos pelos quais tantas mulheres recebem o diagnóstico só na vida adulta.
Por que tantas mulheres demoram a ser diagnosticadas?
Durante muito tempo, os critérios diagnósticos foram criados tendo como base o comportamento de meninos autistas. Resultado: muitas meninas ficaram de fora.
Elas aprendem cedo a “se virar”, copiando expressões, ensaiando roteiros de conversa e forçando contato visual. Isso é o masking. À primeira vista, parece que ajuda a “se encaixar”… mas por dentro a conta chega cara: exaustão, ansiedade, depressão e sensação de viver representando um papel.
Como o autismo pode se manifestar em mulheres?
Algumas diferenças comuns em relação aos meninos:
✨ Meninas costumam ter linguagem mais desenvolvida.
✨ Podem ser mais sociáveis, mas de forma “robotizada”, imitando comportamentos.
✨ Apresentam menos estereotipias visíveis.
✨ Direcionam interesses intensos para pessoas, relacionamentos ou celebridades.
Esses sinais, muitas vezes, passam despercebidos. Não raro, antes do diagnóstico de TEA, mulheres recebem rótulos de ansiedade, depressão, transtornos alimentares ou até borderline.
A questão emocional: vivendo em tons intensos
No meu capítulo do livro “Espectro Autista Feminino”, compartilho um pouco da minha trajetória como mulher autista diagnosticada na vida adulta.
Por anos, acumulei diagnósticos diferentes sem que ninguém considerasse o autismo. A verdade é que muitas de nós vivemos em tons intensos, com emoções que explodem ou implodem, e que muitas vezes não sabemos como regular.
Pesquisas mostram que mulheres autistas têm maiores índices de desregulação emocional que homens autistas e até do que mulheres não autistas com outros transtornos (Weiner et al., 2023). Essa dificuldade de lidar com as próprias emoções está ligada a risco maior de depressão e até suicídio (Conner et al., 2020; Hedley et al., 2018).
E o que pode ajudar?
Terapias como a TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental) continuam sendo muito eficazes, mas outras abordagens, como a ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso) e a DBT (Terapia Comportamental Dialética), também têm mostrado bons resultados.
O mais importante é que o suporte seja personalizado, levando em conta as diferenças de gênero, os desafios sensoriais e emocionais e, principalmente, a realidade única de cada mulher autista.
Resumindo
O masking pode até parecer uma solução no dia a dia, mas esconde o preço alto de viver sem apoio adequado.
Precisamos falar mais sobre isso, ajustar os instrumentos diagnósticos e criar espaços de acolhimento.
Assim, cada vez mais mulheres poderão se reconhecer, buscar ajuda e viver com mais leveza e autenticidade.
👉 Quer se aprofundar mais nesse tema? Recomendo a leitura do livro Espectro Autista Feminino: Invisibilidade, diagnóstico e perspectivas, no qual eu e outros autores compartilhamos nossas experiências e reflexões.