Comumente escutamos frases nas quais a pessoa que se enquadra no autismo nível 1 de suporte parece por conotação ser “ menos autista” que os outros. Essas falas tendem a invalidar o peso que os autistas de suporte 1 carregam, onde eles próprios precisam provar, a todo momento, que suas necessidades de apoio precisam ser legitimadas.
A Manu tem 10 anos e foi diagnosticada com o autismo nível 1 de suporte. Como eu também tenho a Carol, com autismo nível 2 de suporte, consigo facilmente, dentro da nossa rotina, identificar a diferença e as semelhanças que o transtorno traz de prejuízo para a vida das duas.
A Manu, apesar de escutar o tempo todo “você não parece autista”, vive a realidade do autista que se percebe diferente dos outros e que tenta a todo custo se encaixar nos padrões para se sentir “ igual”. Vídeos de 1 minuto no Instagram não definem ninguém.
‘Cara de autista’
A menina que “não tem cara de autista” e que hoje fala muito bem até consegue se manter em uma conversa, mas tem muita dificuldade para trocar de assunto, desde que esse assunto seja estabelecido pelo interesse dela. Essa mesma menina que “ não tem cara de autista” tem uma grande dificuldade nas funções executivas, na linguagem pragmática, apresenta padrão restrito à mudança de rotina, na hipersensibilidade auditiva e tátil, sofre de ansiedade a ponto de não conseguir dormir e comer diante de algumas situações. Essa mesma menina faz estereotipia de movimento com as mãos para se auto regular. Tem baixa tolerância a frustração e precisa de previsibilidade para quase tudo. Em muitos momentos não tem filtro social e fala o que pensa.
Será que essa menina, autista nível 1, que é bastante independente nas suas atividades da vida diária e que fala muito bem, mas precisa de apoio para as suas outras necessidades, é mesmo “ menos autista” que os outros? O maior índice de depressão, ansiedade e tentativas de suicídio está no autismo nível 1, e não no 2 e no 3.
Quando alguém te falar que é autista, não tente diminuir a sua dor e o peso que ele carrega, pelo que você vê, porque a “embalagem” pode estar intacta por fora, mas o “ produto interno “ pode estar sendo reconstruído a todo momento.
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O peso do autismo nível 1
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Ornela Rizzo
Mãe da Manuela e Carolina, ambas autistas. Especialista em Autismo, em Neurodesenvolvimento Infantil e Neuropsicopedagogia. Florianópolis- SC
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