20/06 | 2 anos de Coletivamente

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Nesta última semana de março de 2023, foi divulgada a história de Murilo Leal Rezende, de 17 anos, diagnosticado com transtorno do espectro autista (TEA) e fã da banda Coldplay, que recebeu um convite especial para assistir ao show, após a divulgação de um vídeo do jovem performando uma música da banda.

Dois aspectos nos levam a refletir, primeiro a demonstração de como pequenos gestos podem ter um grande impacto na vida das pessoas, especialmente para aqueles que enfrentam desafios adicionais, e a emoção demonstrada pelo jovem, que ama a música e consegue expressar esta paixão.

Em primeiro lugar, esta matéria tem um impacto emocionante, mas também deve nos fazer refletir sobre a realidade enfrentada no Brasil, que possui milhões de pessoas com este transtorno. Segundo a última atualização bienal do CDC (Centro de Controle de Prevenção e Doenças), principal referência mundial a respeito da prevalência de autismo, uma em cada trinta e seis crianças de oito anos são autistas nos EUA, divulgada em 23/03/2023, utilizando dados de 2020, no estudo de 226.339 mil crianças.

No entanto, o autismo ainda é amplamente mal compreendido e estigmatizado. Muitos autistas são frequentemente excluídos da sociedade, seja por falta de compreensão ou por falta de recursos e políticas públicas que possam ajudá-los a superar os desafios que enfrentam. Por exemplo, muitos autistas enfrentam dificuldades para acessar serviços de saúde e educação de qualidade, bem como oportunidades de emprego e atividades recreativas, visto que o gesto da banda Coldplay não é comum entre as bandas ou qualquer outro tipo de show.

Faltam conscientização e sensibilização

Além disso, o Brasil ainda tem muito a melhorar em termos de conscientização e sensibilização sobre o transtorno. Muitas pessoas ainda acreditam em estereótipos e mitos sobre a condição, como a ideia de que autistas são incapazes de sentir emoções ou ter uma vida plena e feliz.

Como pai de um filho diagnosticado com o (TEA), a matéria sobre o Murilo me enche de esperança e, ao mesmo tempo, me entristece, porque é uma lembrança dolorosa de como ainda há muito a ser feito para melhorar a realidade enfrentada pelos autistas no Brasil. Vivo intensamente com minha esposa a luta diária do meu filho para superar os desafios impostos pela condição.

Enquanto pesquisador, eu sei que há muito conhecimento e recursos disponíveis para ajudar os autistas a terem uma vida plena e feliz, mas é preciso que a sociedade como um todo se mobilize para fazer mudanças significativas. É preciso investir mais pesquisas voltadas a entender melhor as necessidades dos autistas e poder desenvolver soluções eficazes para sua vida cotidiana, dentre outras linhas de pesquisa de igual importância.
Também é importante lembrar que o autismo não é uma condição estática, mas sim um espectro que abrange uma ampla variedade de habilidades e desafios. Cada autista é único e pode ter necessidades muito diferentes em relação a suporte e adaptações. É por isso que é tão importante abordá-lo de forma individualizada, levando em consideração as necessidades específicas de cada pessoa.

Impacto positivo

O segundo aspecto que chamou a atenção foi a maneira como a música da banda impactou positivamente a criança. A mãe do jovem compartilhou um vídeo em que ele canta uma música do grupo, demonstrando a importância da música como forma de expressão e conexão emocional para os autistas.

As melodias podem ser uma ferramenta poderosa para enfrentar os desafios na comunicação e interação social. A música pode melhorar a comunicação, a expressão emocional e a interação social das pessoas, além de reduzir o estresse e ansiedade. Sabemos que a prática musical pode ser uma forma de terapia para os autistas, auxiliando no desenvolvimento da linguagem e habilidades motoras, bem como estimulando o desenvolvimento cognitivo. Por isso, é importante qualquer iniciativa que possa oferecer acesso ao ensino e ao uso de instrumentos musicais para os autistas.

É fundamental que todos nós trabalhemos juntos para promover a inclusão e acessibilidade em nossa sociedade. Isso inclui investir em pesquisa, educação e políticas públicas, que as pessoas com (TEA) tenham consigam exercer os mesmos direitos e oportunidades que todos os outros cidadãos. Mas, acima de tudo, é preciso lembrar que os autistas são indivíduos únicos e valiosos, que merecem ser valorizados e respeitados como parte da diversidade humana.

links sobre o tema que inspirou o artigo:

1 Prevalência e Características do Transtorno do Espectro do Autismo entre Crianças de 8 Anos — Autism and Developmental Disabilities Monitoring Network, 11 Sites, Estados Unidos, 2020 | MMWR (cdc.gov)
2 https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2023/03/12/fa-de-coldplay-adolescente-autista-com-doenca-que-o-faz-perder-a-visao-recebe-convite-da-banda-para-ir-a-show.ghtml
3 Fã de Coldplay, jovem autista com doença que o faz perder a visão recebe convite da banda para ir a show (opopular.com.br)

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