Olá, leitores do Coletivamente. Não estive sumido, apenas estava passando por adaptações em uma fase difícil da minha vida. Durante esse tempo, eu refleti muito sobre meu ativismo, minhas opiniões e o legado que eu gostaria de deixar. Por isso, o título do texto é “quem foi” e não “quem é”.
Todos nós sabemos quem é o Wallace de Lira, autista, ativista, estudante de psicologia e palestrante. Mas futuramente, como serei reconhecido? Isso me deixa curioso. Sempre que pesquiso sobre o Autistas Alvinegros, fico feliz com a evolução do movimento, deixei de ser diretor, mas a história foi escrita e constantemente recebo muito carinho dos integrantes, isso me deixa feliz. É justamente esse legado que eu quero deixar na minha carreira solo como ativista: educação, amor e coragem.
Mas Wallace, porque você não participa de entrevistas?
É verdade, sempre recebo perguntas desse tipo. Minha resposta? Eu sou um cara simples, apesar da quantidade de seguidores, eu não quero holofotes voltados para mim. Eu quero eles voltados para a causa autista. Eu sou apenas um cara de 26 anos tentando ser útil para a sociedade. Odeio idolatrias e por isso declino de muitos convites para entrevistas. Além disso, eu vejo a mídia atualmente como o reflexo sensacionalista da sociedade e me enoja a forma como conduzem as coisas. Eu não quero subir em um pedestal e ser aclamado, quero somente que as pessoas entendam que autistas existem e merecem respeito. Talvez isso explique minha aversão à mídia, por mais que isso me persiga.
Ah, mas então porque você gravou para a Disney+?
Recebi esse convite de maneira inusitada, não esperava por isso. Fiz figuração em uma cena simbólica e contracenei com Alessandra Maestrini. Além de isso ter sido um marco para mim, é a forma que encontrei de dizer: o autismo esteve presente nessa cena. O que é o Wallace de Lira? Apenas mais um dos milhares de representantes da neurodiversidade no Brasil.
Então, quem verdadeiramente foi Wallace de Lira?
Eu vou viver muito, peço a Deus todos os dias por isso. E no futuro quero que olhem para mim e me vejam como o filho da Scarlath, o neto da Amora e o amigo com o qual todos podem contar, mesmo que distante. Quero que olhem para mim e pensem: ele não gosta dos holofotes, mas ele trouxe holofotes à causa.
Vivo uma vida simples, repleta de momentos baixos devido à depressão e à ansiedade, mas sou uma pessoa feliz. Quando gravei uma matéria para o “Globo Esporte”, muitas pessoas me perguntaram: Se disse que não gostava da mídia, o que foi fazer ali?
Prezados, eu fui gravar uma matéria com o Cássio, quando ele ainda era goleiro do Corinthians. A minha história merecia esse momento, por mim e pelo meu pai, que é corinthiano assim como eu. Cássio é meu amigo, ele me ajudou em momentos difíceis e se preocupou com a minha saúde. Como eu iria recusar um convite de aparecer na televisão com ele? Jamais. Por mais que eu tenha minhas opiniões críticas e contundentes à Rede Globo, eu pisei os pés ali pelo meu amigo Cássio, pela causa e pelo Autistas Alvinegros.
A questão é que há muitos artigos, notícias e até entrevistas falando sobre mim. Mas vocês compararam o tempo? Em relação ao meu trabalho como ativista, eu pouco apareci nas mídias. Não por falta de convites, mas porque eu não quero mesmo.
Este ano, irei palestrar na Bahia, estarei no ExpoTea, no congresso Espectro e no CONOTEA 2025. Farei com o maior prazer, meus seguidores merecem isso. Eu tenho uma base de seguidores engajada, merecem sempre o melhor de mim e eu peço a Deus que me ajude a lutar por eles.
No fim, fica a pergunta: quem foi Wallace de Lira?
Isso, somente o futuro irá dizer. Mas eu sei quem ele é atualmente: um ativista simples e sem apegos midiáticos, mas com uma imensa vontade de lutar pela causa. O ativista que critica o sistema e não tem medo de ir pra cima. Eu não quero que se lembrem do Wallace pelo número de seguidores, por ter concorrido ao prêmio iBest ou por ter sido eleito o sétimo ativista masculino mais influente do mundo pela Favikon. Quero que se lembrem do seguinte: ele é autista, ele faz um belo ativismo e ajuda muitas famílias atípicas. Ele me ajudou a entender o autismo.
Fica a reflexão para vocês também… A fama é consequência de um belo trabalho, mas a causa está sendo amplamente promovida? Se sim, estamos no caminho certo.