20/06 | 2 anos de Coletivamente

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Recíproca sincera e verdadeira

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Cá estou eu novamente, recuperado de semanas difíceis. Mas, francamente? Não estou aqui para dissertar palavras ruins, mas para falar de coisa boa. Dizem que autistas não têm sentimentos, vivem no seu “mundinho”, não interagem e não têm amigos. Vou tentar não rebuscar muito esse artigo, pois falo plenamente com o coração… Nada disso é verdade.

Na virada do ano, eu planejei como poderia ser meu 2023, e nos meus planos estavam: focar na faculdade, escrever o meu livro e sinceramente? Me afastar o máximo das pessoas. Eu queria isso. Até que fui atingido por uma sobrecarga intensa. Eu me desregulei por completo, nem as psicólogas sabiam me direcionar, embora fizessem o possível.

Até que algo trágico aconteceu na comunidade do autismo, entristecido, fiz uma publicação. Foi onde eu a conheci… Ela era tímida e completamente introvertida, parecia querer puxar assunto, mas não sabia como, e eu tampouco, indo além, eu nem estava com cabeça para começar uma nova amizade. Mas ela surgiu, como uma heroína na minha vida, trazendo a luz de volta em um coração tomado pela escuridão. Delicada e gentil, eu pensava em como dizer a ela: eu não sou amável. Eu precisava dizer isso a ela… Mas ela sabia. De certa forma, ela sabia que eu era injustiçado por combater injustiças que muitos não teriam coragem de desbravar. Eu sempre me senti inferior a ela, ela era doce, amável e tão gentil… Eu era um cara revoltado com retrocessos.

Como uma amizade dessas poderia dar certo? Como poderia ir além e evoluir? Eu costumo pensar e vislumbrar imagens, e nas criadas na minha eufórica mente, só me vinha a certeza de que eu teria que me descontruir, de que eu teria que ser a melhor versão de mim para nunca magoá-la. E as imagens projetadas pelo meu cérebro se tornaram realidade.

Enorme calmaria

Hoje eu acordo com diversas mensagens dela, e quando não, eu sinto falta. Expressar sentimentos aqui é muito fácil, e, com o suporte dela, aquela sobrecarga deu lugar a uma enorme calmaria, o que eu achava ser inferno virou paraíso. Não é fácil duas pessoas autistas se comunicarem tão bem uma com a outra… Mas a nossa comunicação foi tão além das nossas limitações, que passamos a falar sobre nossos sonhos e ambições, ela reacendeu meu sonho em Medicina, voltei a buscar minha autonomia, passei a não somente ver, mas ter a certeza de um futuro possível.

Eu já disse que a constelação Cruzeiro do Sul é tão rara a ponto de sua visão panorâmica ser acessível somente em alguns lugares do mundo? Pois bem, ela é uma raridade. A amizade dela, a cumplicidade e a afetividade dela me salvaram, me fizeram demonstrar sentimentos, me fizeram voltar a sorrir. Sua parceria me faz feliz. Eu nunca irei soltar a sua mão.

Esse é o meu sentimento atual como autista. Daqui em diante, podem ter a certeza de que eu serei uma pessoa mil vezes melhor, graças à Layne Bregantini.

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