Aos 11 meses de vida, fui infectada pelo vírus da poliomielite. Além da infecção, sofri um trauma que me deixou bem debilitada do umbigo para baixo. Minha locomoção dava-se com auxílio de muletas e órteses.
Aos 18 anos, iniciei a minha carreira no esporte através da natação. Fui campeã mundial, brasileira, vice-campeã panamericana.
Fui mãe aos 21 anos de uma menina que se chama Nickolle. Hoje, ela tem 22 anos, já é mãe e, eu, avó. Aos 28, eu casei pela segunda vez. Três anos depois, fui mãe pela segunda vez, de um menino, o Carlos Henrique. Aos 32, depois de várias crises de fadiga, infecções urinárias e uma internação, recebi o diagnóstico de síndrome pós-polio.
Devido ao déficit cognitivo, tive que ser afastada do trabalho laboral e fui aposentada por invalidez. Hoje, minha locomoção se dá por cadeira de rodas.
Morando no Rio de Janeiro, aos 35 anos, descobri que estava grávida do meu terceiro filho, o Benício. Quando ele tinha cerca de 1 ano, percebi no Benício possíveis sinais que ele poderia ser autista: desinteresse por brinquedos, resistência em brincar com outras crianças, regressão da fala.
Sai a natação, entra a canoagem
Comecei a migrar da natação para a paracanoagem, pois meu rendimento na natação havia caído muito.
Em 2016, já competindo na paracanoagem, resolvi buscar o diagnóstico do Benício, pois tinha suspeita de que ele estava dentro do espectro. O diagnóstico veio. As pessoas passaram a me dizer que eu teria que abrir mão da minha profissão de atleta, pois uma criança com autismo teria que ter dedicação em tempo Integral.
Passei a levar o Benício aos treinos. Carregava marmitas, remédio, lanche e todo o tipo de entretenimento possível para ele. Houve dias exaustivos. Momentos de muita irritabilidade por parte dele, mas com a ajuda do meu marido não desisti. Resolvi que iria continuar, e o Benício iria comigo. Nos mudamos para Curitiba em 2019, em busca de melhores condições de vida e, claro, acompanhamento para o Benício.
Comecei a treinar com mais entusiasmo na canoagem para realizar um sonho: disputar minha primeira Paralimpíada. Transformei esse sonho em meta. Treinos, cuidado com o Benício, cuidados com a casa. Uma rotina difícil, mas não impossível. Dependia de mim fazer acontecer.
Paralimpíada de Tóquio
Em 2021, aos 43 anos, chegando à menopausa, esposa, dona de casa, mãe do Carlos Henrique, de 12 anos, e do Benício, de 7, autista, representei o Brasil nas Paralimpíadas de Tóquio 2020.
E sinto um orgulho danado em buscar um novo olhar para as mães envolvidas com o espectro. Em desmistificar um pouco esse estigma que mãe de autista deixa de viver. Ao contrário… Temos muita vida, porque nossos filhos vão seguir com a gente. É claro que não há romantismo, e precisamos, sim, de uma rede de apoio. Precisamos que as políticas públicas ofereçam acompanhamento, terapias, atendimento médico adequado, para que nossas crianças possam evoluir e terem mais autonomia possível, dentro de suas limitações.
É isso que espero! É isso que quero buscar! Estamos juntos!
Diagnóstico não é Destino.