20/06 | 2 anos de Coletivamente

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Minha trajetória com o autismo

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Quando penso no início da minha história com o transtorno do espectro autista (TEA), me lembro claramente do frio na barriga, da insegurança e do medo de atuar. Eu era uma profissional da educação, atuando com psicopedagogia e acompanhava um aluno com diagnóstico de Síndrome de Down em sua residência e na escola. Com o tempo, percebi que havia algo a mais, a forma como ele se apegava às rotinas, os movimentos repetitivos com as mãos, o hiperfoco em animais e o atraso na linguagem me chamavam a atenção e a interação social dele também era bastante limitada. Esses sinais me despertaram uma curiosidade profissional, mas também um sentimento de dúvida e temor. Será que estou preparada para lidar com isso? E se eu estiver errada? E se eu não souber o que fazer?

Do receio à ação: a busca por conhecimento

Mesmo com todas essas perguntas sem resposta, algo em mim dizia que eu precisava investigar mais e foi então que o diagnóstico de autismo foi confirmado. Senti que a intervenção que eu vinha oferecendo (focada apenas na aprendizagem pedagógica) não seria suficiente, nem efetiva diante do quadro clinico. Era preciso mais. É então que a ABA entra na minha vida. Comecei meus estudos em Análise do Comportamento Aplicada fazendo um curso de formação como aplicadora ABA. Como não tinha condições financeiras de arcar com supervisão especializada, os pais do meu aluno, vendo meu comprometimento e com expectativas no desenvolvimento do filho, passaram a custear a supervisão em troca da minha atuação.

Foi um período intenso de aprendizados, eu estudava, aplicava, recebia feedbacks, corrigia, testava de novo e a cada sessão com aquela criança era uma nova chance de aprender. Foi ali que meu medo foi cedendo espaço para a segurança. A segurança veio do estudo, da prática supervisionada e, principalmente, da consciência de que o meu trabalho podia transformar vidas.

Os primeiros desafios na atuação em ABA

Um dos maiores desafios não foi só técnico, mas emocional: vencer o medo de não ser boa o suficiente, isso me travava um pouco. Tive medo de apanhar, de falhar, de ser julgada, de não fazer um bom trabalho. Mas fui assim mesmo. Atuei dentro da escola, muitas vezes sendo a única voz falando sobre comportamento, reforço, função do comportamento e ensino estruturado e aprendi que não se trata de não ter medo, mas de escolher agir com responsabilidade apesar dele. E é isso que desejo compartilhar com quem está lendo este artigo: não precisamos estar prontos para começar, mas precisamos estar comprometidos para continuar.

O compromisso com a ética e a formação

Hoje, sigo estudando e acredito que nunca irei parar. Leio livros e artigos científicos, assisto a aulas, faço cursos, continuo atuando no “chão de clínica” e também supervisiono outros profissionais. A experiência me ensinou que na ABA não existe espaço para improviso ou achismo, que cada decisão precisa ser baseada em dados, evidências e princípios técnicos. E para isso é fundamental buscar formação de qualidade.

Mais do que conhecimento, nossa profissão exige ética. Pois, cada criança que atendemos é um sujeito com direitos, necessidades e histórias únicas. E é preciso respeitar suas características, atuar com empatia, firmeza e amor. ABA sem respeito é apenas uma sequência de comandos. ABA com compromisso é uma ponte para o desenvolvimento!

Para quem está começando: coragem e compromisso

Se você é um profissional que sente medo de começar, saiba: eu também senti. Mas fui, e sigo indo. A diferença está em não se deixar paralisar por conta do medo e sim em buscar conhecimento para atuar com segurança. Estude, busque boas referências, aceite a supervisão como parte do processo e, principalmente, mantenha o foco no bem estar das crianças. Não há caminho rápido ou fácil, mas há um caminho possível, e ele é mais leve quando caminhamos com responsabilidade e paixão pelo que fazemos.

No nosso próximo artigo, vamos aprofundar o papel do Aplicador ABA (AT): quem é esse profissional, qual a sua formação, suas funções na intervenção e por que ele é uma peça tão importante dentro do processo terapêutico. Espero você no próximo artigo! Abraços inclusivos!

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