20/06 | 2 anos de Coletivamente

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Treinar é importantíssimo

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Voltamos com mais um artigo da nossa série, que por sinal vocês estão gostando muito. No artigo de hoje, falaremos sobre como é importante treinar os cuidadores e envolvê-los no processo terapêutico de seus filhos.

Durante a minha jornada com o autismo e com a ABA, levava comigo algo que me marcou: o de que o cuidado não termina quando a sessão acaba. E na maior parte do tempo a gente não pensa assim, não é mesmo?

Muitas vezes, o maior impacto e a maior mudança na vida de uma criança não acontece na clínica ou na escola, mas em casa, no momento da refeição, na hora do banho, na hora de guardar os brinquedos e nas brincadeiras. E foi assim que comecei e perceber que mais do que ensinar a criança eu também deveria ter um olhar voltado para os pais e compreender a importância do treinamento via cuidadores.

No início, confesso que eu tinha dúvidas e me perguntava. Será que os pais dariam conta? Será que iriam aplicar corretamente e seguir meus direcionamentos? Será que entenderiam o que estávamos tentando fazer? Mas à medida que fui observando os resultados, percebi que quando empoderamos as famílias com conhecimento e estratégias, algo incrível acontece: a intervenção se estende para todos os momentos da vida da criança.

Por que treinar cuidadores?

Por que pais, mães, avós e todos que convivem com a criança é que estão presentes nos momentos mais espontâneos e ricos em oportunidades de aprendizagem. E mais: eles são figuras afetivas, e isso potencializa ainda mais o efeito do ensino. São eles que precisam aprender as estratégias e os manejos que são realizados na sessão para replicarem (seguindo um direcionamento do terapeuta) com a sua criança em casa.

Treinar cuidadores não é transferir uma responsabilidade que é nossa, mas é formar aliados, é criar uma rede de suporte mais forte, mais presente, mais constante. É garantir que o que ensinamos nas sessões seja mantido, praticado e reforçado no dia a dia da criança.

É muito importante que nosso olhar, enquanto terapeuta, esteja voltado às necessidades do sujeito que atendemos e também das suas famílias, pois eles são os “maiores terapeutas dos filhos”. Eles precisam participar ativamente do processo de tratamento da criança para garantir um desenvolvimento pleno e também a generalização das habilidades aprendidas em contexto terapêutico. E muitas vezes até complementar as horas de tratamento da criança, pois as horas liberadas pelas operadoras de saúde na maioria dos casos não são suficientes.

Mas, como funciona esse treinamento na prática?

Treinar cuidadores é um processo que envolve algumas etapas:

Instrução clara: onde explicamos aos cuidadores os objetivos da intervenção, os princípios por trás das estratégias, o “porquê” de cada técnica.

Modelagem: mostramos como executar a intervenção, demonstramos as interações, como é a utilização dos reforçadores e as ajudas para quando forem aplicar com a criança.

Ensaio com feedback: o cuidador pratica e recebe orientações de como está sendo seu desempenho, aqui nesta etapa eles realizam e colocam em prática o que observaram os profissionais realizando e juntos eles vão ajustando as estratégias para que a aplicação seja realizada de maneira assertiva.

Reforço dos avanços: celebramos cada passo conquistado e percorrido e validamos os esforços dos cuidadores que se empenham neste processo.

Acompanhamento constante: monitoramos os dados coletados nas intervenções, revisitamos estratégias e adaptamos conforme necessário e de acordo com as necessidades que vão surgindo pelo caminho, visando sempre ao desenvolvimento da criança e a aplicação dos cuidadores.

É bem importante ressaltar que tudo isso deve ser feito com muito acolhimento, sem julgamentos, sem imposições. Cada família tem sua realidade, seu próprio ritmo, sua bagagem emocional e nosso papel é escutar, acolher, ensinar e caminhar junto.

Desafios e descobertas

Não vou dizer que este é um caminho fácil, pois não é. Já encontrei cuidadores com medo de não darem conta, com culpa por não terem um tempo para os filhos e outros com muita insegurança. Alguns se sentiam cobrados demais, outros desacreditados de suas capacidades e tudo isso precisa ser levado em conta por nós, terapeutas.

Durante minha trajetória atuando junto às famílias, aprendi a olhar para essas barreiras com empatia, a adaptar a linguagem, a respeitar o tempo de cada um, a valorizar os pequenos progressos, porque no fundo, todos querem ajudar e, às vezes, só não sabem como fazer isso.

E quando conseguimos criar essa parceria, os frutos aparecem na forma de pais mais seguros, crianças mais engajadas, menos comportamentos desafiadores e, o mais importante, qualidade de vida para todos.

Ao treinar cuidadores, a gente também cresce, sabia? Aprendemos tanto com eles, pois precisamos fazer mudanças e sermos mais claros, mais flexíveis, mais empáticos. Aprendemos que ensinar é também aprender a ouvir e que ABA de verdade não se limita ao protocolo aplicado, ou às fichas de registro e, sim, que ela vive no contexto, nas relações, nas histórias reais das famílias que nos convidam a fazer parte do seu mundo e nos confiam diariamente seus bens mais preciosos.

Se você, caro leitor (a), é profissional da área, te convido a incluir as famílias no seu plano de intervenção. Mas não como figurantes, como muitos fazem. E sim como protagonistas. Invista em formação, aprenda a ensinar, desenvolva empatia e esteja aberto a treinar os cuidadores, porque no final todos ganham: você, a família e, principalmente, a criança que está recebendo tratamento.

Espero que esteja gostando dos nossos artigos semanais sobre autismo e ABA, continue acompanhando nas próximas semanas, pois continuarei trazendo muitos temas relevantes tanto para pais quanto para profissionais.

 Espero vocês no próximo artigo!

Abraços inclusivos!

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