Às vezes, a confusão no debate sobre educação baseada em evidências é tão grande que algumas reflexões preliminares são necessárias. Muitas pessoas acreditam que o curso da ciência de sempre avançar mais e mais e superar visões passadas constitui um desrespeito aos que ficaram para trás, sem a contextualização histórica de suas contribuições!
Superar a teoria da psicogênese da língua escrita não é desrespeito. É compromisso com a ciência, com a ética e com a alfabetização de qualidade.
A teoria psicogenética, proposta por Emilia Ferreiro, teve seu valor histórico e trouxe importantes reflexões sobre o processo de aprendizagem da escrita. Ela nos ajudou a olhar para a criança como sujeito ativo no processo de construção do conhecimento.
Mas a ciência avança — e a ciência da leitura nos mostrou que essa teoria não explica com precisão como a leitura se desenvolve no cérebro, além de apresentar lacunas quando analisada à luz de evidências empíricas mais recentes.
Hoje, alfabetizar com base em ciência é reconhecer que há abordagens mais eficazes para ensinar as crianças a ler e escrever. Superar uma teoria não é negar seu valor histórico, mas seguir em frente com base em dados, ética profissional e compromisso com o direito de todas as crianças à alfabetização plena.
É hora de deixarmos de lado as crenças e abraçarmos o conhecimento sólido. Por nossas crianças. Pela educação que queremos construir.