20/06 | 2 anos de Coletivamente

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“A voz do meu filho”

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Muitos médicos que sabem sobre, mas não vivem o autismo, afirmam ser muito difícil que um autista fale após certa idade. Conheço um autista que falou aos 42 e li sobre outro o que falou aos 57.

São poucos frente a um universo? São! Mas também são provas de que é possível. Devemos pensar bem antes de entregar nossa esperança a alguém. Não estou aqui criticando o conhecimento dos médicos, e sim a forma com que muitos falam aos pais tirando-lhes a esperança e a vontade de trabalhar para que aconteça, por pensarem ser um esforço inútil.

Gabriel falou um pouco, até os 4 anos, hoje, aos 37, não fala, mas eu nunca desisti de ouvi-lo mesmo que não fosse através de palavras. Saber adaptar sonhos também é uma habilidade para que possamos manter a esperança viva e não vivermos de amarguras. Não estou aqui ditando regras, apenas quero repassar exemplos do que fiz e deu certo. Investi em comunicação alternativa e ele aprendeu os comandos básicos, o que lhe trouxe certa independência.

Converso com ele mesmo não esperando respostas faladas, mas aprendi a interpretar expressões faciais, olhares, gestos, contextos. Nem sempre essa comunicação se dá de forma adequada ao entendimento claro que a fala nos traz, mas o importante é que também dessa forma eu consigo “ouvi-lo”.

Nunca desistir

Hoje como todos os dias acordei com ele ao lado da minha cama, dei bom dia, o abençoei e disse que o amo. A cada palavra dita, ele olhava em minha direção. Aí me deu vontade de perguntar: Gabriel, você me ama? Ele se virou para o lado e me beijou. Detalhe: Gabriel recebe beijos, mas não costuma dá-los, quando raramente dá é apenas um encostar de lábios em nosso rosto. Hoje ele teve a iniciativa do beijo e eu pude sentir seus lábios contraídos num movimento de realmente beijar.

Agradeci a Deus por nunca ter desistido de me comunicar com ele, de nunca ter invalidado a sua fala. E hoje, finalmente, pude “ouvir” que ele me ama! Esse foi um dos momentos mais ternos da minha vida e que será eternizado!

Não desista de seu filho, não ouça quem invalida as capacidades dele. Alimente suas esperanças mesmo sendo preciso adaptá-las. Expresse o seu amor, e “ouça” a voz dele, mesmo sem palavras!

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