Há tempos procrastinando escrever um texto sobre TEA e terceira idade, me peguei refletindo os porquês desse adiamento contínuo. Para que saísse esse “rebento”, me impus datas limites, as quais ignorei, compromissos com o editor, que burlei, e agora sigo com nova data. Como o senso de dever exacerbado bate à minha porta, no texto atual resolvi destrinchar os sentimentos para vencer a rigidez. Quando me entendo, produzo.
A procrastinação é algo frequentemente ligado a dificuldades nas funções executivas, que são habilidades cognitivas essenciais para planejar, organizar e agir. O que é muito comum e observável em pessoas autistas. Todavia, como é a procrastinação nos autistas idosos? Será que fica mais intensa? A resposta é sim! Além dos motivos citados acima, há fatores sensoriais e emocionais que podem se intensificar com a idade, e também há, por vezes, a queda da energia, tão necessária para a produção.
No meu caso, para o autoentendimento, voltei-me para questões internas de enfrentamento, aceitação e reconhecimento de mim idosa. Também meu lugar de fala nessa fase recém chegada à minha vida. Ontem li que ao considerarmos a idade com que nos sentimos, e não a idade biológica, nos tornamos seres mais felizes e produtivos. Penso que isso é lógico e viável, desde que não esqueçamos os limites do corpo. Algumas pessoas também devem apontar o limite do ridículo, mas essa questão é muito pessoal, não debaterei sobre ela. Voltemos ao limite do corpo físico. Embora me sinta internamente mais jovem, preciso validar as dores, perdas de habilidades, memória e cognição advindas da senilidade.
Escrevo lutando internamente com termos que agora devo assumir, como idoso, terceira idade, senilidade, etc. Porém, sempre me vi quebrando preconceitos e paradigmas, então, essa nova luta não me assusta, vou encará-la. Já dizia Walt Whitman (meu favorito): “Sou vasto, contenho multidões.” E eu sempre fui capaz de reconhecer as várias Cláudias que vivem dentro de mim, a Cláudia “nova idosa” é só mais uma delas.
A “quebra” da procrastinação se deu em tempo real, consegui falar abertamente e esse pequeno texto/reflexão já nasceu, rebentou! Sigo citando Gilberto Gil:
“Tudo o que nasce é rebento
Tudo que brota, que vinga, que medra
Rebento raro como flor na pedra,
Rebento farto como trigo ao vento…”
Assim seja!
