O esporte tem sido ferramenta de transformação na vida de Eduardo César Guimarães. Diagnosticado com autismo nível 3, o jovem sorocabano de 17 anos encontrou no atletismo um caminho para o desenvolvimento, a autonomia e a superação de barreiras. Atualmente, ele é medalhista brasileiro paralímpico na prova de arremesso de peso e uma das promessas do projeto “Somando Atletismo”, iniciativa da Associação Horizontes, com o apoio da Prefeitura de Sorocaba (SP) e incentivo do Ministério do Esporte.
O projeto tem o objetivo de apresentar e incentivar a prática de modalidades esportivas entre jovens e adultos com ou sem deficiência, promovendo a inclusão social e o acesso à atividade física. O adolescente faturou um bronze e um prata nos Jogos Paralímpicos do Estado de São Paulo. Também foi bronze no Brasileiro Paralímpico de Atletismo.
O primeiro passo de Eduardo no esporte aconteceu ainda na escola. A mãe, que o acompanha desde o início, conta que o incentivo veio do professor de Educação Física.
“O professor me chamou e disse: ‘olha, seu filho tem muita força nos braços’. Depois vi uma reportagem sobre o projeto na televisão e fiquei com aquilo na cabeça. O Dudu sempre teve dificuldade para conseguir uma inclusão de verdade no esporte, e depois de muito tentar, resolvi ir atrás. E foi a melhor decisão que tomei”, relata.
A entrada de Eduardo no projeto aconteceu em parceria com o “Criança Feliz”, que o encaminhou aos treinos realizados na Vila Gabriel, em Sorocaba.
“Desde o início fomos muito bem acolhidos. O Dudu teve todo o tratamento e o acolhimento que merece. Eu fiquei muito feliz”, conta.
Rotina transformada
Antes do projeto, o adolescente vivia uma rotina limitada entre a casa e a escola. Hoje, treina quatro vezes por semana com a equipe de atletismo e duas vezes na academia, acompanhado por personal trainer. O acompanhamento é custeado com o dinheiro do Bolsa Atleta, benefício conquistado após ficar entre os três melhores do país em sua categoria.
“Era um menino que saía da escola e ficava em casa. Agora ele tem rotina, treina, viaja para campeonatos e aprendeu a se virar sozinho. Foi ganhando autonomia, responsabilidade, autoestima e muitos amigos”, afirma a mãe.
A escolha pelo arremesso de peso surgiu naturalmente, ainda segundo a mãe, o jovem atleta tentou outras modalidades como a corrida e arremesso de dardo, mas no arremesso de peso foi onde ele se encontrou.
A evolução de Eduardo é marcada por conquistas pessoais e esportivas. Ele já representou Sorocaba em campeonatos fora do estado e sonha em alcançar a marca de dez metros no arremesso de peso. Atualmente, sua melhor marca é de oito metros.
“O projeto deu a ele dignidade. Ele aprendeu que competir não é só ganhar medalhas, é superar a si mesmo. Arremessava seis metros, depois sete, agora oito. O sonho dele é chegar aos dez”, diz a mãe.
Na escola, as conquistas do atleta inspiram colegas e professores:
“Sempre que volta das competições, a direção o chama para o pátio e ele fala para os alunos. É um exemplo de que todo mundo é capaz. Ele adora esportes e incentiva os colegas”.
Apesar dos resultados expressivos, a infraestrutura para o treino dos atletas ainda é um desafio.
“A pista da Vila Gabriel precisa de melhorias. No calor, eles treinam em uma sala pequena e dependem de doações. É difícil, mas a união entre os atletas e a força de vontade fazem tudo valer a pena”, relata a mãe.
O “Somando Atletismo” também tem papel fundamental no desenvolvimento social dos participantes, promovendo integração e apoio mútuo.
“É lindo ver um ajudando o outro, torcendo, superando limites juntos. Falo por mim e por outras mães: o projeto transforma. Dá visibilidade para jovens que eram invisíveis”, conta.
Uma história de fé e inspiração
Diagnosticado com autismo aos 3 e meio, Eduardo enfrentou uma infância de grandes desafios.
“Naquela época quase ninguém falava sobre autismo. O Dudu não falava, não usava roupa, era muito agitado. Foi um período muito difícil. Aos oito anos, ele começou a falar e a se abrir para o mundo. Ver ele hoje, cheio de amigos, com sonhos e autonomia, é uma alegria que não dá pra descrever”, afirma, emocionada.
O jovem sonha em cursar Educação Física e seguir carreira como atleta universitário. Antes das competições, tem um ritual: cantar a música que virou sua inspiração.
“Ele sempre canta: ‘Pega essa cabeça, manda a tristeza embora, pode acreditar, um novo dia vai raiar, a sua hora vai chegar’. Ele diz que essa música é dele. E realmente é. Porque a hora do Dudu chegou”.
FONTE: https://ge.globo.com/sp/tem-esporte/noticia/2025/11/16/jovem-com-autismo-tem-vida-transformada-por-projeto-social-de-atletismo-conheca-a-historia.ghtml