20/06 | 2 anos de Coletivamente

Compartilhe

Compartilhe

Uma das dificuldades enfrentadas por pessoas com transtornos do neurodesenvolvimento é a percepção do tempo. Elas acham que “ainda há tempo”, mas, quando percebem, o prazo já está quase acabando. Essa sensação de “salto no tempo” não é falta de força de vontade, é uma característica do funcionamento do cérebro. Ainda assim, mesmo com essa diferença na percepção temporal, é possível cumprir prazos com algumas estratégias.

A chave está em transformar o conceito de “tempo restante” em algo mais concreto e até divertido.

O trecho a seguir é adaptado do livro de Tomonari Kashimoto, que apoia a reintegração de pessoas com deficiência à sociedade e mantém o canal do YouTube “Hattatsu Shougai Shigoto Labo”. O livro se chama “Tenho medo de abrir a caixa de correio! Um guia para superar a procrastinação em pessoas com transtornos do neurodesenvolvimento” (Editora Sunmark).

Os nomes dos personagens são fictícios, e algumas informações foram alteradas para proteger a privacidade.

“Achei que ainda tinha tempo, mas quando percebi, faltavam só cinco minutos para entregar…”

Talvez você também já tenha sentido que o tempo simplesmente desapareceu. Miyuki Ōno, uma jovem na casa dos 20 anos que frequenta um centro de apoio à inserção profissional, é muito boa em elaborar propostas. No entanto, quando há um prazo envolvido, sua noção de tempo se desorganiza.

Certa manhã, ela recebeu uma tarefa:

“Entrega até as 15h de daqui a três dias? Tranquilo”, pensou.

Mas na tarde do dia anterior, o documento ainda estava em branco. E às 14h55 do dia da entrega, ela se apressava para clicar no botão de envio, um padrão recorrente. Ela descreve assim sua sensação:

“Quando o prazo parece um número distante, não consigo começar. Deixo para depois e acabo sempre no limite.”

Como Miyuki gosta de videogames, sugeriu-se a ela uma abordagem diferente: substituir o tempo por distância.

Ela pegou uma folha A4 na horizontal, desenhou uma linha reta e marcou o ponto de partida à esquerda (o momento atual) e o ponto final à direita (o prazo).

Como faltavam oito horas até as 18h, ela dividiu a linha em oito partes, criando um “mapa de estações”, onde cada estação representava uma hora.

Em seguida, ela passou a usar um pequeno clipe de papel como se fosse “seu trem pessoal”, com a regra de movê-lo uma estação para frente a cada hora de trabalho concluída.

O ponto central aqui não é mover o trem conforme o relógio, mas sim avançá-lo conforme o progresso real, permitindo visualizar o panorama completo até o prazo final.

Em cada estação, ela colou adesivos com as etapas do trabalho — “coleta de material”, “estrutura”, “desenvolvimento” e “finalização”. Ao chegar a uma estação, removia o adesivo correspondente como sinal de tarefa concluída.

“Assim eu sabia exatamente em que parte do processo estava”, disse ela.

Ao meio-dia, o clipe havia avançado apenas duas estações, mas o mapa mostrava claramente as seis estações restantes.

Às 16h, estava prestes a chegar ao destino. “Chegando no chefão final!”, brincou, rindo enquanto partia para a etapa final.

Às 17h, o trem, isto é, o clipe, alcançou a estação final. Miyuki clicou no botão de envio uma hora antes do prazo, desenhou uma grande estrela no espaço em branco do mapa e comentou:

“Vendo no mapa, entendi onde eu estava. Então foi só seguir em frente até o fim!”

Ao transformar o tempo em uma linha ferroviária e contar “quantas estações faltam”, o prazo deixa de ser um inimigo e se torna um mapa que orienta até a chegada.

Experimente estas quatro etapas:

1 – Desenhe a linha e crie seu “trilho”
Marque o lado esquerdo como ponto de partida (hora atual) e o lado direito como estação final (prazo).

2 – Divida em “estações”
Considere 1 estação = 1 hora. Divida a linha pelo número de horas restantes.
Para planos de longo prazo, você pode usar 1 estação = 1 dia ou 1 semana.

3 – Atribua tarefas a cada estação
Cole adesivos ou post-its com as etapas correspondentes em cada estação.

4 – Mova o “trem” (clipe ou moeda)
A cada hora de trabalho, avance o trem uma estação e diga em voz alta:

“Próxima parada: estação [nome da tarefa]!”
Ao chegar, remova o adesivo da tarefa concluída.

Quando o tempo é apenas um número, ele parece distante e abstrato. Mas ao desenhar sua própria linha de trem no papel, o tempo ganha corpo e movimento.

Assim que o “trem” avança, o destino, o seu objetivo, deixa de ser algo longe no futuro e se torna uma distância concreta diante dos seus olhos.

Construa uma linha de trem no papel e visualize o tempo como distância, não como número.

FONTE: https://forbes.com.br/forbessaude/2025/11/como-pessoas-com-tdah-podem-transformar-o-medo-de-prazos-em-prazer/

Veja também...

Raelzinho está na fase de desafiar regras e ordens. Na escola, em alguns momentos, desafia a hora de fazer atividades e quer …

Quando uma porta se fecha, outra se abre.Tenham sempre fé. Como autista, sei que entrar no mercado de trabalho é um grande …

Autismo na vida adulta, seus desafios e suas potencialidades. Falo mais sobre tudo isso no vídeo que segue.

plugins premium WordPress