20/06 | 2 anos de Coletivamente

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Importância do diagnóstico

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Sofia tem 10 anos. Na escola, gosta de ajudar os amigos e é considerada uma criança meiga, mas intempestiva. A mãe, Flávia D’Ávila, conta que por vezes a menina dá trabalho para sair de casa, mostra-se aflita ou nervosa, chora e grita com frequência e “vive num mundo de medo”.

No último ano o colégio sinalizou a necessidade de um neurologista. O diagnóstico veio há alguns meses: a menina doce, mas explosiva, tem o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Com o início da terapia e alguma medicação, ela agora está mais leve, tem um humor melhor e é mais fácil de lidar.

– Depois do diagnóstico veio uma clareza sobre como ajudar. Agora ela está mais focada, mais calma e participativa – avalia a mãe.

De causas genéticas, o TDAH aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda sua vida, sendo abrandado com o crescimento e maturidade, especialmente na área da hiperatividade.

A Organização Mundial de Saúde aponta que cerca de 3% da população mundial tenha o transtorno, mas há uma diferença grande das taxas de TDAH diagnosticadas de país a país. Em 2017, um estudo revelou que em crianças e adolescentes dos EUA, por exemplo, a taxa era de 8%. A proporção é bem menor no Iraque (1%) e Polônia (3%). De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), calcula-se que cerca de 2,5% dos adultos brasileiros tenham o transtorno.

Os sintomas mais conhecidos são desatenção, inquitetude e impulsividade. Mas a verdade é que o transtorno traz muitos outros sintomas e, ainda na escola, a criança sofre na tentativa de se adequar ao comportamento dos pares.

Se por um lado os problemas em se concentrar e inquietude são aparentes, eles são apenas a ponta de um iceberg que esconde vários outros sintomas além dos que se vê na superfície.

Intervenção

Tradicionalmente o transtorno é tratado por meio de terapias e medicamentos que estimulam as funções cerebrais, como os que ajudam no foco, e os psiquiátricos, como os que reduzem, por exemplo, os níveis de ansiedade.

Novas técnicas associadas a estímulos magnéticos e elétricos no cérebro, contudo, vem sendo testadas por médicos, pacientes e famílias e podem ser o futuro do tratamento, embora ainda sejam incipientes e, em alguns casos, não estejam no rol de cobertura da Agência de Saúde Suplementar (ANS). O que os pesquisadores procuram saber é, até que medida a neuromodulação influencia de fato a condição do paciente com TDAH.

Na opinião da neuropsicóloga Sarah Sammy, coordenadora de hightech do Instituto de Medicina e Psicologia Integradas (Impi), TDAH não tem cura, mas o uso de aparelhos para corrigir padrões cerebrais tem mostrado importante eficácia no tratamento de pessoas com diferentes idades e necessidades.

– Os aparelhos trabalham a parte fisiológica do cérebro, dando um grande apoio para as terapias e medicamentos. Em outros casos, não é apenas apoio. De fato, o cérebro precisa de uma intervenção e os resultados são animadores – explica Sarah, que é especialista em neurotecnologia.

O alvo, segundo ela, é modificar os padrões de ondas beta, que se apresentam mais rebaixadas nos pacientes se comparadas a cérebros neurotípicos.

Segundo a psicóloga, basicamente há quatro tipos de tratamento do TDAH por instrumentos, com níveis de intervenção diferentes. O menos intrusivo é o biofeedback, seguido do neurofeedback. Ambos usam eletrodos conectados ao cérebro.

O biofeedback trabalha os aspectos fisiológicos do cérebro. Exercícios, que podem inclusive ser feitos em casa, procuram alterar as ondas e a frequência delas nas diferentes partes do órgão. O tratamento faz uma leitura de batimentos cardíacos, temperatura corporal, transpiração para corrigir aspectos frequentemente vistos nesses pacientes, como a agitação e a ansiedade.

Já o neurofeedback, que atualmente está sendo bastante difundido no Brasil, é uma combinação de tratamento fisiológico, emocional e cognitivo que tem se mostrado eficaz não só para quem tem TDAH, mas especialmente para os pacientes no espectro autista. Isso porque ele atua no sistema nervoso central e nas áreas do lóbulo frontal responsáveis pelas tarefas conhecidas como funções executivas – foco, memória de trabalho, sequenciamento, poder de julgamento e capacidade de decidir, controle inibitório, capacidade de lidar com a frustração, entre outros.

Feito de uma a duas vezes por semana na clínica e complementado por exercícios caseiros, o neurofeedback é capaz de melhorar os padrões cerebrais que controlam a integração motora, a codificação e perda de informações.

Estímulos

Os dois tratamentos com maiores níveis de intervenção são a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC) e a estimulação magnética transcraniana, feitas em 10 sessões sequenciais (uma por dia) e depois mais dez espaçadas.

A ETCC é uma estimulação indolor por meio de uma corrente elétrica baixa e contínua emitida diretamente na área cerebral de interesse, através de pequenos eletrodos, com o objetivo de aumentar o nível de atividade cerebral da área estimulada. Ela pode começar a ser feita aos cinco anos e tem mostrado bons resultados especialmente nos transtornos de aprendizagem.

Por fim, o estímulo magnético é considerado o padrão ouro de tratamento do TDAH, porque faz rajadas de estímulos elétricos e magnéticos de maneira conjugada pelo cérebro. O procedimento, contudo, é considerado desproporcional para as crianças pequenas.

– Elas não precisam de tanto para o tratamento ser bem-sucedido. Isso porque quanto mais novo o cérebro, mais plástico é e mais eficazes são os tratamentos com eletrodos e de estímulo elétrico. A estimulação magnética, por outro lado, é um recurso potente para os cérebros mais cristalizados, de adultos e idosos – compara a psicóloga Sarah Sammy.

Fonte: Site do Senado Federal

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