Certa vez me perguntaram como eu “enxergo as coisas”, sendo autista. Temple Grandin fala sobre seu raciocínio ser semelhante ao “Google Imagens”. Particularmente, não me identifico tanto com esta experiência, mas frequentemente me noto interpretando as coisas em forma de equações, funções, algoritmos e outros sistemas.
Provavelmente, essa não é a forma mais didática de se falar sobre este assunto tão discutido entre profissionais que trabalham com autismo. No entanto, como autista e também um entusiasta da ciência, é a representação mais próxima que consegui para expressar a maneira como eu “enxergo” o que entendo como práticas baseadas em evidências (PBEs).
O que mais gosto nessa elegante e objetiva representação é que ela diz muito por meio de poucos elementos. Principalmente, ela deixa claro como as PBEs de nenhuma forma dispensam senso crítico por parte de quem as aplica.
Basear sua prática clínica/educacional em evidências científicas está longe de se resumir em replicar protocolos/procedimentos “passo a passo” de maneira engessada. Pelo contrário, após se debruçar sobre a melhor literatura disponível, cabe ao profissional usar do que há de mais incrível em ser humano: o senso crítico e o raciocínio, que possibilitarão a melhor aplicação dessas evidências em cada cenário.