Praticar esporte é muito mais benéfico do que se costuma pensar, e isso é confirmado nos benefícios para as pessoas com autismo. A autorregulação, ou seja, aprender a regular as próprias emoções, é uma das principais conquistas verificadas no garoto Arthur Pina Picanço, de 13 anos de idade e com nível de suporte 2 de autismo, por parte da mãe dele, a economista e especialista em Educação Inclusiva, Bianca Teixeira Pina, 46 anos.
Matriculado no 7º ano do ensino fundamental, Arthur adora tudo sobre futebol, tem hiperfoco no assunto. “O Arthur conhece as histórias e os jogadores, acompanha campeonatos, adora assistir às partidas e jogar. Ele pratica o esporte desde os 7 anos em escolinhas de futebol. Morávamos em outro Estado e lá ele jogou por cinco anos numa escola de futebol. Tivemos que nos mudar e vir morar em Belém no final de 2021 e, em 2022, o matriculei na Tuna, e ele foi bem recebido e acolhido lá”, relata a mamãe Bianca.
Em 2023, o garoto não mais permaneceu no futebol, por causa da logística mesmo em relação a outras demandas dele. Hoje, Arthur faz treino funcional que inclui o futebol, o basquete e o vôlei nas atividades. “Porém já pedindo pra ir pra escola só de futebol novamente”, como revela Bianca.
Até os 7 anos de idade, ele praticava outros esportes, mas começou a não querer mais ir e a pedir para jogar futebol. Assim, foi matriculado em uma escolinha da modalidade, por sugestão da equipe multiprofissional que o acompanhava. “Ele teve atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, e a orientação médica sempre foi estimular. Além de estímulos motores e do próprio benefício que a atividade física traz em relação à qualidade de vida, do sono, a regulação hormonal”, destaca a mãe de Arthur.
Inúmeras melhorias
A prática desse esporte virou uma prioridade para a família do Arthur, porque, como frisa Bianca, “une o prazer, a necessidade física e a social, já que é um esporte coletivo”. “O futebol deu a ele, além de habilidades motoras, habilidades sociais, melhorou sua saúde e principalmente seu sono”.
Entre os benefícios do esporte para Arthur está a inclusão. Ele aprendeu a lidar melhor com a frustração. “Quando um time perde, por exemplo, ele aprendeu a ter ter mais empatia, quando ele ou outro erra uma jogada ou perde um gol, aprendeu a ser muito mais solidário, quando o outro se machuca ele vai e ajuda, manda parar o jogo; e ele não tinha essa relação com as frustrações, com os próprios erros, ficava bastante irritado, sem paciência, era bastante impulsivo, imediatista, queria que as coisas saíssem do jeito que ele imaginava”, destaca Bianca. Arthur gosta de jogar bola em praças, interagindo com crianças e adolescentes, sem ter de esperar pelo dia e horário para jogar.
Há 12 anos, funciona na sede da Tuna Luso Brasileira, no bairro do Souza, em Belém (PA), o projeto Associação Clube Esporte Adaptado em Belém (ACEAB), administrado pelo professor de Educação Física Valdir Aguiar. “O projeto surgiu pelo fato de eu ter verificado muitas mães de crianças com deficiência buscando um lugar para a prática de esportes para meninos e meninas”, ressalta o professor Valdir, que, a partir da constatação, aprofundou o enfoque no esporte paraolímpico e acabou criando a ACEAB.
O projeto conta com dez profissionais voluntários, entre um fisioterapeuta e oito professores de Educação Física e o próprio Valdir. São atendidos 162 alunos com deficiência, de 8 a 18 anos. Entre eles, há dez crianças com autismo. As atividades praticadas envolvem: natação, atletismo, tênis de mesa, bocha, parataekwondo, parabadminton, voleibol sentado, futebol de amputados e petra. Em breve, será implantado o tênis de quadra em cadeira de rodas. As modalidades funcionam aos sábados, das 8h às 12h. No dia 23 de setembro, será realizado, em Belém, o Festival Paraolímpico, promovido pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), integrando crianças com e sem deficiências.
Como lista o professor Valdir Aguiar, dentre os benefícios do esporte para crianças com deficiência estão a oportunidade de prevenir a prevenção à depressão (para quem fica a maior parte do tempo em casa), a melhora do condicionamento físico e do sistema respiratório; a inclusão social, mediante interação com outras crianças com ou sem deficiências; e maior aproximação de pais e filhos em ambientes variados.
FONTE: O Liberal