O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância – atingindo 5% das crianças – e pode seguir pela vida toda. A criança tem sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Na primeira infância, o mais comum são os sintomas de hiperatividade, principalmente nos meninos.
“Em estudos epidemiológicos, não se nota tanta diferença na prevalência do transtorno entre meninos e meninas, mas, em ambiente clínico, como ambulatórios e consultórios médicos, há maior número de meninos”, afirma Paulo Mattos, psiquiatra, coordenador do núcleo de estudos de TDAH da Universidade Federal do Rio de Janeiro, um dos fundadores da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA).
Mas qual seria a explicação? De acordo com o psiquiatra, existe a hipótese de que os meninos, por apresentarem mais sintomas de hiperatividade, enquanto nelas, o que mais se destaca é a desatenção. “Como ‘incomodariam’ mais, tanto na escola, quanto em casa, os meninos seriam encaminhados a diagnósticos com mais frequência”.
Só depois, quando entram na escola, é que os indícios de déficit de atenção costumam ser notados. Por isso, o diagnóstico costuma ser fechado por volta dos 6 ou 7 anos. Em adultos, as diferenças entre o sexo masculino e feminino quanto à prevalência do TDAH e as formas clínicas de apresentação (com predomínio de desatenção, hiperatividade ou ambas combinadas) desaparecem.
Muitas características
Para dizer que uma criança tem TDAH é preciso juntar muitas características. Entre elas estão: parecer não escutar o que os outros falam, não se lembrar onde deixou as coisas, não se concentrar na sala de aula, não parar sentado quando deveria, ficar sempre mexendo pernas e mãos, não conseguir ficar quieto para ouvir uma história ou então ficar tão entretido com o que gosta que é difícil tirá-lo da frente da TV. Quando acompanhados e tratados, entretanto, a criança e o adulto podem levar uma vida normal. A seguir, o especialista responde a outras dúvidas comuns.
1. Como é o diagnóstico de TDAH? É necessário algum tipo de exame, como ressonância magnética e eletroencefalograma?
Paulo Mattos: O diagnóstico é inteiramente clínico, feito com base nos sintomas, da mesma maneira que outros problemas, como a síndrome do pânico e a depressão. Não é necessário exame de ressonância, eletroencefalograma ou qualquer outro que avalie características físicas. Os pais não precisam se sentir inseguros por conta do diagnóstico ser feito sem exames, pois na psiquiatria é assim mesmo que funciona. Outros profissionais, como pediatras e neurologistas especializados na doença, também podem auxiliar no processo de diagnóstico.
2. Quando uma criança só demonstra dificuldade de se concentrar em uma situação, por exemplo, na escola, pode ser TDAH? Existem níveis diferentes da doença? Como distinguir quem tem TDAH de uma criança que é simplesmente muito ativa?
P.M.: Não, as dificuldades de atenção devem ocorrer em pelo menos duas situações diferentes para que o diagnóstico seja realmente fechado. Quando ocorrem casos como o da pergunta, o mais provável é que aquela situação específica seja um problema e é isso que deve ser investigado. Quanto aos níveis da doença, sim, o TDAH pode variar de leve a grave (de acordo com a intensidade dos sintomas). A diferença entre o transtorno e uma característica da criança recai na intensidade do comportamento, da hiperatividade e da impulsividade – é difícil e muitas vezes só um especialista poderá dizer se é algo que precisa ou não ser acompanhado e tratado.
3. É possível tratar a doença sem medicamentos, só com atividades físicas?
P.M.: Não. Casos leves de desatenção ou hiperatividade não são classificados como TDAH e quando há diagnóstico fechado os medicamentos são necessários. Atividade física não é tratamento, é muito importante para uma criança hiperativa, até para o gasto de energia, mas não tem efeito sozinha.
4. Como saber se uma menina tem TDAH, já que os meninos são diagnosticados mais facilmente por conta da hiperatividade presente nos primeiros anos de vida? Os sintomas aparecem mais tarde ou são diferentes?
P.M.: As meninas costumam apresentar mais sintomas de déficit de atenção mesmo. Por conta disso, fica mais fácil perceber depois que elas entram na escola. O grau de desatenção acaba comprometendo sua vida acadêmica, principalmente. Não é que ela não tivesse o problema antes, mas é mais difícil identificá-lo.
5. Caso não seja tratado ainda criança, o problema pode trazer consequências na vida adulta? Quais? Há alguma pesquisa específica sobre isso?
P.M.: Há inúmeras pesquisas mostrando que o TDAH está associado ao fracasso acadêmico, abandono escolar, acidentes de trânsito, uso de drogas, álcool e divórcio, entre outras situações negativas na vida adulta. Por isso, diagnóstico e tratamentos são tão importantes para seu filho ter uma vida normal.
FONTE: Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA)