20/06 | 2 anos de Coletivamente

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A neurologista da infância e adolescência Deborah Kerches, especialista em Transtorno do Espectro Autista (TEA) e mestra em Análise do Comportamento pela PUCSP, escreveu sobre a relação entre suicídio e autismo. Veja o artigo abaixo, publicado no “Diário Campineiro”.

A relação entre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e uma maior vulnerabilidade ao suicídio é um tema de crescente importância. Diversos estudos têm explorado essa conexão, revelando dados alarmantes.

A prevalência de ideação suicida entre pessoas com TEA é significativamente maior do que na população geral. Estudo de Cassidy e colaboradores (2014) mostrou que até 66% dos adultos autistas sem deficiência intelectual relataram ideação suicida em algum momento da vida, comparado a cerca de 17% na população geral. Revelou ainda que 35% já haviam tentado o suicídio.

Estudo de Hirvikoski e colaboradores (2016) descobriu que entre 11% e 14% dos indivíduos com TEA morrem por suicídio, sendo esta uma das principais causas de morte prematura entre autistas, especialmente entre aqueles sem deficiência intelectual, o que reforça a necessidade de intervenções preventivas direcionadas a essa população.

O suicídio é mais comum entre autistas que não apresentam deficiência intelectual e se encontram no nível 1 de suporte, uma vez que esses frequentemente possuem uma maior consciência sobre suas dificuldades na adaptação à vida em sociedade.

Alguns fatores que contribuem para essa maior vulnerabilidade no contexto do autismo incluem a alta prevalência de comorbidades psiquiátricas (como depressão e ansiedade); dificuldades na comunicação e socialização, com maior risco de bullying e exclusão social; e o impacto do uso constante de masking.

A adolescência, fase em que costuma haver maior desejo de se vincular e pertencer a grupos sociais, exige atenção especial nesse contexto. Adolescentes autistas apresentam maior risco de comportamento suicida, com taxas de tentativa de suicídio de cerca de 15%, o dobro da taxa observada em adolescentes sem TEA (Mayes et al., 2013).

Alerta

É essencial reconhecer que autistas podem enfrentar maiores desafios na compreensão e expressão de suas próprias dificuldades e sentimentos, o que pode dificultar um pedido de ajuda em situações de sofrimento, incluindo o desejo de tirar a própria vida.

Essa realidade exige grande sensibilidade por parte de cuidadores, pessoas da convivência e profissionais envolvidos no acompanhamento ao autista, para que estejam atentos inclusive a sinais que podem não se apresentar de “forma tão obvia”.

Nesse contexto, é importante também que sejam implementadas estratégias que tornem o processo de pedir ajuda mais acessível para autistas, como, por exemplo, criar ambientes acolhedores, utilizar comunicação alternativa e disponibilizar diferentes formas de se buscar ajuda.

Um olhar atento e o suporte contínuo e adaptado às necessidades específicas de cada autista ao longo da vida podem salvar vidas.

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No vídeo abaixo, bem humorado, toco em pontos que comumente as pessoas confundem quando tratamos de autismo. Espero que gostem.

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