O autismo em mulheres tem sido historicamente subdiagnosticado, uma vez que os critérios médicos se baseiam, em grande parte, nos padrões masculinos de comportamento. Estudos recentes mostram que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) se manifesta de maneira diferente em meninas e mulheres, o que contribui para um diagnóstico mais tardio e menos eficaz.
Especialistas apontam que o fenômeno do “masking”, ou mascaramento, é uma das razões principais que levam as mulheres a esconder seus sintomas para se adequar socialmente, o que pode atrasar o diagnóstico por décadas.
Um exemplo significativo desses desafios é a história de Nadime Samaha, influenciadora digital e ativista da comunidade autista. Diagnosticada com TEA aos 24 anos, Nadime passou a maior parte de sua vida sem saber que era autista, apesar de apresentar sinais desde a infância, como sensibilidade auditiva, seletividade alimentar e dificuldades de socialização. “Eu ia muito bem na escola, o que dava a impressão para os meus pais que meu desenvolvimento estava normal e que eu não precisava de suporte. Só que, na verdade, eu precisava, mas ficava muito bem disfarçado”, afirma Nadime.
O diagnóstico de Nadime só ocorreu após uma longa trajetória de busca por respostas. Ao notar semelhanças entre suas características e as de seu irmão, diagnosticado com TEA a 1 ano de idade, ela decidiu investigar mais a fundo suas suspeitas. “Os meninos recebem o diagnóstico mais cedo. Meu irmão foi diagnosticado com 1 ano, e eu comecei a reparar que tínhamos muitas características em comum, foi aí que acendeu uma luzinha”, relata.
De acordo com a psiquiatra Adriane Choinski, o TEA é categorizado em três níveis de suporte, sendo o nível 1, no qual Nadime se encontra, caracterizado por uma maior autonomia em algumas áreas, mas ainda com dificuldades significativas em seguir normas sociais e interagir com outros. No entanto, o “masking”, comum entre mulheres autistas, dificulta a detecção de comportamentos típicos do transtorno, tornando o diagnóstico mais complicado. “No universo feminino, muitas vezes você precisa dessas estratégias para ser incluída e aceita”, afirma Adriane.
Uso de redes sociais
Nadime, que hoje utiliza suas redes sociais para educar e conscientizar sobre o autismo, reforça a importância de se discutir o diagnóstico feminino. “Desenvolvi um masking muito pesado. Isso nos impede de nos conhecermos verdadeiramente, perdendo nossa identidade”, reflete a ativista.
A psiquiatra Adriane Choinski destaca que o diagnóstico de autismo em mulheres ainda precisa de mais estudos que considerem a subjetividade feminina. A falta de pesquisas focadas nesse grupo faz com que muitas características de autistas mulheres passem despercebidas, o que contribui para um atraso no diagnóstico. Para Nadime, ser mulher se tornou um empecilho no reconhecimento da condição, pois muitos sinais eram vistos como comportamentos típicos do gênero feminino, como ser mais reservada ou focada em interesses específicos.
“Eu tive muita dificuldade ao longo da minha vida por não ter sido diagnosticada mais cedo. Desenvolvi ansiedade, transtorno de sono e insônia severa”, relata Nadime, reforçando a importância de um diagnóstico precoce para evitar complicações secundárias.
Dessa forma, o diagnóstico precoce é fundamental para garantir intervenções adequadas e melhorar o desenvolvimento e o bem-estar de pessoas autistas. Especialistas alertam que a atenção aos primeiros sinais de autismo é crucial, especialmente em meninas, onde os sintomas podem ser mais sutis. Sobre o estudos citados: Descoberta tardia do autismo afeta qualidade de vida
Como Nadime afirma: “Com o diagnóstico, vem uma sensação muito grande de liberdade, porque agora sim, eu posso ser quem eu sou”.
FONTE: https://www.folhavitoria.com.br/geral/noticia/09/2024/autismo-em-mulheres-estudo-aponta-os-desafios-do-diagnostico-tardio