20/06 | 2 anos de Coletivamente

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Todo mundo guarda na memória uma lembrança da época de escola. Amizades, brincadeiras na hora do recreio ou um professor que transformou o jeito de encarar o aprender. Foi na sensibilidade do “Tio Cássio” que João Gabriel Saraiva, diagnosticado com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), encontrou a chance de melhorar em matemática. Para isso, o mestre fez uma aposta com o aluno: vestir a camisa do Ceará, time rival ao da família, se ele melhorasse as notas no boletim.

Cássio Murilo é professor do 4º e do 5º anos do Educandário Monteiro Lobato, no Eusébio, cidade da Região Metropolitana de Fortaleza. O país tem cerca de 2,4 milhões de professores na educação básica, de acordo com o Censo Escolar de 2023 coordenado pelo Inep e Ministério da Educação. Ele dá aula de história e de matemática para a turma do menino. O mestre tem carinho pelo Fortaleza por causa da família.

O futebol entrelaça a família de Cássio por todos os lados. Inclusive, dois tios dele vestiram a camisa do Leão do Pici: Freitas, campeão cearense em 1987, e o Freitinhas. Ele também tem primos atletas profissionais. E ele, Cássio, é torcedor do Ferroviário como a mãe. A matemática explica esse problema?

“Sempre assistimos aos jogos juntos. Minha mãe começou a torcer pelo Ferrão e, por acompanhar ela no estádio, eu passei a torcer também. Meu pai ia às vezes, mas ele gostava mesmo era de jogos na várzea, o que me traz muitas lembranças boas. Minha adolescência como torcedor do Ferrão foi complicada, sem nenhum título para comemorar, só lembranças de jogos incríveis a que nunca assisti. Mas acho que é porque Deus estava esperando meu filho nascer para vermos juntos o Ferrão ser campeão brasileiro (Série D) duas vezes”, lembra o docente.

O professor e os alunos costumam conversar sobre esportes nos intervalos das aulas. Cássio acompanha os rachas da garotada no recreio. Então ele viu no futebol a chance de trabalhar a dificuldade de aprendizado de João Gabriel, de 11 anos.

“Certo dia, depois da entrega de uma avaliação, ele quis tirar o foco da nota dele falando do time do Ceará, tentando mostrar uma certa importância, pois se sentiu um peixe fora d’água por ser um dos poucos com nota baixa. Ele disse ‘Pelo menos o Ceará foi campeão’, numa referência ao título do Cearense de 2024 – lembra o professor”.

Dificuldade de aprendizado

João Gabriel é aluno do 4º ano e tem TDAH, por isso a dificuldade no aprendizado. Cerca de 2 milhões de brasileiros receberam o diagnóstico, sendo 7,6% crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos. Os dados são da Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA).

“É uma criança que não se concentra muito nas tarefas habituais. Ele estava com notas baixas e foi aí que o tio Cássio, com uma excelente forma de contagiar os alunos, fez essa aposta para que ele se motivasse, porque ele é alucinado pelo Ceará – lembra a mãe Karisia Santiago”.

O tio Cássio saiu da lógica e lançou o desafio: se João tirasse 10 na próxima avaliação, o professor iria para a escola vestido com a camisa do Ceará. Aposta aceita, foi a vez de a mãe da criança entrar em cena.

“Ele criou um foco imenso para estudar e para ver o tio Cássio com a camisa do Ceará. Ele chegava da escola e me pedia ajuda para o estudo. Aquilo estimulou de um jeito, que até eu queria ver o professor com a camisa do Ceará”, disse a mãe.

“Poderiam pensar que eu não o acharia capaz ou que não queria que ele conseguisse o 10. A princípio fiquei um pouco receoso, pois poderia ser mal interpretado. Foi um começo de ano complicado, pois João Gabriel é um aluno com dificuldade em se concentrar nas aulas e nas provas”, explicou o professor.

Na prova parcial do terceiro bimestre, veio a nota sonhada: 10 em matemática. Toda a entrega de avaliação, a classe ficava um alvoroço. Todo mundo curioso para saber o resultado.

“Quando ele conseguiu o 10, tentei não tocar no assunto para que ele não lembrasse. Ele só conseguiu ver em casa. Fiz de propósito para evitar a cobrança da aposta e ainda passei uma semana sem vestir a camisa”, detalha Cássio.

O docente era diariamente cobrado pelos alunos, que ansiavam vê-lo vestir a camisa alvinegra. Torcedor do Ferroviário, ele não ia comprar uma camisa do Ceará. Entre os conhecidos, para poder pedir emprestado, todos usavam um número menor que o dele. Então, para escapar de pagar a aposta, recorreu à diretoria da escola.

“Fui até a diretora na esperança de que ela não deixaria, para ter outra desculpa, mas ela gostou da ideia. Consegui a blusa com o esposo da minha cunhada e a vesti escondido no banheiro da escola. Coloquei a farda por cima e só tirei na sala mesmo”, lembra o professor.

Cássio gravou o momento em que entrou na sala trajado com o manto alvinegro. A euforia da turma foi completa. João Gabriel correu entre as cadeiras, incrédulo com a surpresa.

“Não acreditava que ele ia cumprir a aposta porque ele torce pelo time rival, né? Sabia que ele vinha dar aula, mas não que viria com a camisa do meu time, né? Aí quando ele veio, todo mundo ficou sem acreditar. Eu também. Comecei a pular de alegria, fiquei feliz… Também pela minha nota, porque eu estava com muita nota baixa em matemática. E eu faria tudo pelo meu time mesmo”, afirmou João Gabriel.

FONTE: https://ge.globo.com/ce/futebol/noticia/2024/10/15/professor-faz-aposta-e-veste-camisa-do-ceara-apos-aluno-com-tdah-melhorar-nota.ghtml

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