Um episódio de discriminação veio à tona em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, envolvendo um casal que vive no espectro autista. Isadora Ortega Rosa Carvalho, de 24 anos, e seu marido foram vítimas de comentários depreciativos por parte de uma pessoa que estava em uma gráfica local. O casal, ao pegar uma senha da fila preferencial, ouviu de outro cliente que “autista não é inteligente”.
Isadora compartilhou a experiência nas redes sociais, destacando a falta de preparo para lidar com pessoas no espectro autista. “Isso acontece sempre, a gente só cansou de ficar quieto”, desabafou. Tanto Isadora quanto seu marido são autistas, com diagnósticos que vieram em momentos distintos de suas vidas.
Isadora recebeu o diagnóstico aos 22 anos, após seu filho, hoje com 6 anos, ter sido diagnosticado a 1 ano de idade. Ela relata que já possuía conhecimento sobre o autismo devido às peculiaridades observadas em seu filho desde cedo. O diagnóstico foi, para ela, libertador, pois finalmente compreendeu suas próprias peculiaridades.
“A sociedade costuma não entender o autismo. As pessoas nos veem como grossos, avessos ao toque ou desconfortáveis em certas situações. Depois que recebi meu diagnóstico, parei de me forçar a me encaixar em situações que me deixavam desconfortável”, explica Isadora.
Desde a adolescência, Isadora enfrentou desafios de aceitação e adaptação, sentindo-se muitas vezes incompreendida ou isolada. “Quando tentamos agradar todo mundo, nossa energia se esgota. Foi um momento muito triste ouvir o que ouvi na gráfica. Isso estraga nosso dia”, lamenta.
A falta de entendimento sobre o autismo é uma realidade enfrentada diariamente pelo casal. Isadora destaca que, além do episódio na gráfica, já passaram por outras situações desconfortáveis ao longo deste ano. “As pessoas têm essa ideia equivocada de que apenas crianças podem ser autistas. É uma mentalidade que precisa mudar”, afirma.
Para combater a discriminação e aumentar a compreensão sobre o autismo, Isadora iniciou um blog onde compartilha suas experiências e conhecimentos sobre o espectro. Ela ressalta a importância de um atendimento mais capacitado ao público em geral, não apenas por parte dos funcionários, mas também da sociedade como um todo.
“O autismo não tem uma ‘cara’. É necessário entender que há diversas camadas dentro do espectro autista. Precisamos de uma mudança na sociedade, e embora seja um desafio, é necessário continuar lutando por isso”, conclui Isadora. O casal encara sua jornada não apenas em benefício próprio, mas também pensando no futuro e na inclusão das pessoas autistas na sociedade.
FONTE: https://www.campograndenews.com.br/lado-b/comportamento-23-08-2011-08/autismo-nao-tem-cara-mas-todo-dia-alguem-com-transtorno-e-invalidado