20/06 | 2 anos de Coletivamente

Compartilhe

Compartilhe

Jacob, um jovem de 19 anos com autismo, sabe apontar para aquilo que ele precisa. Em geral, é música. Mas, no repertório verbal, duas palavras: “comer” e “sim”.

O pai do rapaz americano não precisa de frases para ler o filho. Só que nem ele fazia ideia do segredo do filho: Jacob guardava uma sinfonia inteira na cabeça.

A revelação veio depois de sete anos aprendendo a digitar. O clique aconteceu quando a escola fechou na pandemia. A família californiana ficou ainda mais perto. E, de mãos dadas, guiava o filho até o teclado, onde Jacob encontrou a sua voz.

“Aí, quando Jacob aprendeu a teclar, ele mostrou que sabia ler, soletrar… Em um mês, ele trocou o material de Terceira Série pelo nível universitário.”

“Suas suposições estão erradas” é um poema do Jacob. Em uma parte, ele diz: “Sou um prisioneiro no meu próprio corpo, mas estou saindo em grande estilo.”

Orquestra Petrobras Sinfônica

O programa “Fantástico”, da Rede Globo, convidou a orquestra Petrobras Sinfônica para interpretar a partitura que decifrou Jacob. É um universo neurodiverso, no qual instrumentos “exigem dor” e outros “sentem sono”.

O som dentro do Jacob é todo descrito. Ele compõe em forma de frases, explicando música com palavras: “violinos atacam trompetes”.

Jacob explicou uma parte assim: os sopros criam clima de medo, as cordas são rápidas, nostálgicas e vacilantes. Todos contra todos. Há tréguas, derrotas, rendição.

‘Rob consegue ler minha mente’

Rob Laufer é a chave da sinfonia trancada: ele, que é amigo do pai do Jacob há décadas, transformou em partitura as instruções de Jacob.

E ele se surpreendeu com a evolução do rapaz.

“Ninguém fazia ideia do que ele pensava. Agora, depois que eu li o trabalho dele, a poesia… Fiquei impressionado. Então, comecei a fazer perguntas e me emocionar”, diz Rob.

O Jacob verbalizava a sinfonia e Rob tateava as instruções: aí o músico pensava e voltava com exemplos.

O rapaz, às vezes, pedia correções e o parceiro nunca discordou. Aos poucos, os dois foram se afinando, a ponto de Jacob digitar para o pai: “O Rob consegue ler minha mente”.

Importância do estímulo

É preciso acelerar o diagnóstico para começar logo a estimular a criança. O psiquiatra Fabio Barbirato, especialista em autismo, também disse que nem todo mundo alcança o mesmo resultado.

“Quando você tem algum atraso na linguagem, vai ter atraso todo o restante do teu desenvolvimento. Então, ele conseguiu de alguma forma se aprimorar com a linguagem.”

Jacob escreveu que acerta três em cada quatro questões de um programa de perguntas e respostas sobre história, literatura e ciências.

A grande capacidade de memorização teria mais a ver com o foco do que com uma supermemória. Algumas pessoas com autismo se empolgam à beça com um mesmo tema e se desinteressam por outros. A ponto de enxergarem detalhes que fogem da atenção geral. A música é um hiperfoco pro Jacob, mas talvez não seja o principal.

Medo da morte dos pais

Os pais não sentiram como se redescobrissem o filho, porque sempre acompanharam o Jacob de perto. Mas contaram que a digitação trouxe pelo menos uma grande surpresa.

“A gente descobriu que o Jacob tem muito medo da nossa morte. Porque ele tem 19 anos, mas somos pais na casa dos 60 anos. Só que ele disse uma coisa que nos confortou: que ele tem todas as nossas lembranças guardadas e que quando tiver saudade vai visitar essas memórias”, explicou o pai.

FONTE: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2023/10/29/jovem-com-autismo-que-quase-nao-fala-cria-mentalmente-sinfonia.ghtml

Veja também...

No vídeo abaixo, bem humorado, toco em pontos que comumente as pessoas confundem quando tratamos de autismo. Espero que gostem.

Mãe, pai… Você não precisa dar conta de tudo.Nem ser perfeito.Nem acertar sempre. Ser pai ou mãe já é, por si só, …

Você já conhecia o Experimento de Milgram? Nos anos 1960, o psicólogo Stanley Milgram realizou um dos experimentos mais marcantes da história …

plugins premium WordPress