Tinham coisas que eu não sabia no momento do diagnóstico do Edinho. No laudo, “autismo severo” – literalmente, antes de ser chamado nível três. Eu pensava no pior cenário. Um filho “Rain Man”, isso se tivesse sorte. Pensava que era o fim do mundo. Por que não, ao menos, um autismo mais leve?
Nada como o tempo para mostrar que o nível de autismo é sempre um desafio, só que os problemas mudam.
Autista é autista e a comparação de dores tem deixado muita gente infeliz ou irritada.
Se há autismo, há alguma dificuldade. Às vezes não aparece, mas é tão forte que vira motivo para uma pessoa autista não querer mais viver. Dá para dizer que é leve? Acho que não.
Não dá para medir níveis e dizer que uma pessoa “muito autista” não estaria bem e uma “pouca autista”, sim.
O problema crucial da humanidade é a de julgar o outro por si mesmo e a de comparar dores. Nossos problemas são sempre legítimos, se não, não seriam chamados de problemas.
No Brasil, a falta de atenção para pessoas autistas é visível em todas as cidades. Quando não se tem recursos, autistas nível 2 e 3 ficam sem tratamento multidisciplinar e autistas nível 1 sem terapia ou oportunidades. Não tá bom pra ninguém que não possa pagar, isso é fato. Mas quem garante que um nível é mais necessitado que os outros? Só mesmo vivendo a situação de perto.
Bem-estar não tem nível. Felicidade não precisa de diploma. Inteligência não é garantia para uma boa vida.
Deficiência não é empecilho para uma vida satisfatória.
Para cada um, que seja dado o suporte que precisa para amar a própria vida.