20/06 | 2 anos de Coletivamente

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Autistas no audiovisual

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Engana-se quem pensa que o autismo virou moda ou que “todo mundo é um pouco autista”. Como já mencionado, o assunto passou a ser discutido com maior frequência no Brasil graças a dois fatores essenciais: o aumento no número de diagnósticos e o acesso à informação.

Especificamente por conta desse último fator, cresceu também o interesse pela abordagem do autismo nas produções audiovisuais brasileiras e estrangeiras. Diferentemente das produções norte-americanas, onde o tema é explorado com maior frequência e profundidade — abordando não apenas o diagnóstico na infância, mas também os desafios da vida adulta, como universidade, primeiro beijo, trabalho e o despertar da sexualidade —, no Brasil, esse tipo de abordagem ainda é tímido e recente.

A primeira grande produção brasileira que tratou sobre autismo foi a novela “Amor à Vida” (2013), exibida pela Globo e escrita por Walcyr Carrasco. A trama apresentou a personagem Linda, interpretada por Bruna Linzmeyer, uma jovem autista de nível de suporte 3, condição que requer maior suporte. Durante a história, Linda se envolve com Rafael (Rainer Cadete), com quem se casa no final da novela.

Quatro anos depois, em 2017, outra produção de destaque foi “Malhação – Viva a Diferença”. Nessa trama, a personagem Benê, interpretada por Daphne Bozaski, é uma jovem autista de nível de suporte 1, anteriormente conhecida como Síndrome de Asperger. Após um encontro inusitado em um vagão de trem, ela faz amizades que a ajudam a lidar com o capacitismo e a viver experiências como o primeiro amor.

Não há dúvidas de que as produções audiovisuais são importantes ferramentas de transformação social, provocando mudanças significativas ao retratar temas relevantes em novelas, filmes ou séries. Porém, como o autismo ganhou maior evidência recentemente no Brasil, ainda há poucas produções nacionais que abordam o tema. Quando isso ocorre, os resultados apresentam tanto acertos quanto erros.

No caso de Linda, em “Amor à Vida”, houve questionamentos por parte de autistas: como uma jovem com autismo severo poderia namorar e casar com alguém neurotípico, sendo que precisava de suporte constante? Embora existam opiniões divergentes, acredito que não devemos invalidar o direito ao amor de uma pessoa apenas por sua condição. Com os cuidados e apoios necessários, isso é perfeitamente possível. No entanto, faltou à trama um melhor assessoramento para evitar que o enredo soasse forçado ou caricato.

Por outro lado, em “Malhação – Viva a Diferença”, o autor Cao Hamburger acertou ao criar uma personagem que mostra as dificuldades de quem recebe um diagnóstico tardio, especialmente no enfrentamento do capacitismo e da exclusão social. A trama foi ágil, dinâmica e bem-recebida pelo público, tendo, inclusive, conquistado o Emmy Internacional de Melhor Série Juvenil em 2018.

Produções estrangeiras

Produções internacionais, como “Atypical” (2017, Netflix), “The Good Doctor” (2015, Globoplay) e “Uma Advogada Extraordinária” (2022, Netflix), também foram bem-sucedidas em termos de público. No entanto, o impacto dessas histórias nem sempre resultou em mudanças significativas no comportamento social ou na inclusão de autistas em seus elencos.

A falta de diversidade foi um ponto criticado, especialmente em “Atypical”. Embora a série tenha sido elogiada pela crítica e pela comunidade autista nos Estados Unidos, a ausência de atores autistas nas primeiras temporadas gerou controvérsias. Felizmente, os roteiristas reconheceram o erro e introduziram personagens autistas nas temporadas finais.

É importante lembrar que cada autista é único. Embora muitas dessas produções sejam inspiradas em situações reais, nem todos os autistas serão gênios, bem-sucedidos profissionalmente ou filhos de celebridades. São seres humanos com angústias e inquietações, como qualquer outra pessoa. O primeiro passo para entender isso é o respeito.

Importância da representatividade

Como já mencionei, mudar uma realidade historicamente construída de preconceito e capacitismo leva tempo. No caso da representatividade no audiovisual, esse processo se fortalece à medida que personalidades públicas ganham destaque após receberem um diagnóstico tardio. Exemplos disso são os atores Anthony Hopkins, conhecido por papéis como o Zorro, e as atrizes Letícia Sabatella e Leilah Moreno.

Esses artistas, diagnosticados com autismo de nível de suporte 1, mostram que é possível alcançar o sucesso, seja nas artes ou em qualquer outra área, independentemente do diagnóstico. No caso de Letícia e Leilah, elas ainda trazem à tona um tema pouco explorado: o diagnóstico tardio em mulheres, já que a maioria dos autistas diagnosticados são homens.

A representatividade dessas personalidades contribui para desmistificar mitos e construir uma sociedade mais inclusiva. Com o tempo, acredito que falar sobre autismo no Brasil será tão natural quanto discutir a vida de pessoas com Síndrome de Down.

FONTE: https://www.canalautismo.com.br/artigos/a-representacao-dos-autistas-nas-producoes-audiovisuais/

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