20/06 | 2 anos de Coletivamente

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Autoconhecimento é fundamental

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Falar sobre autismo tornou-se algo mais frequente na última década. Apesar disso, o autismo em adultos ainda é de complexo entendimento.

Segundo a Terapeuta Ocupacional Deise Lopes, Diretora geral do Instituto Rosa Azul de Rio Preto, os principais desafios enfrentados por adultos autistas em termos de ocupação é o julgamento da sociedade no qual rotula a pessoa autista em situações cotidianas em que a condição é mencionada como a causa de não saber ou não entender algumas coisas.

Em termos de empregabilidade, ela acredita que muitas empresas não contratam um autista por medo de crises e surtos e, sobretudo, por não saberem lidar com a situação. “Hoje, a empregabilidade para eles que são laudados, (que possui laudo de TEA diagnosticado) e entram como PCD, corresponde a menos de 20% do público TEA disponível e preparado para o mercado de trabalho”, disse Deise.

Os benefícios da Terapia Ocupacional

De acordo as profissionais do Instituto Rosa Azul, o primeiro passo é levar a pessoa dentro do espectro a se conhecer, identificando potenciais e fragilidades. “Encontramos com um público de suporte 1, perdidos em relação a suas hipersensibilidades em relação a estímulos recebidos durante o dia, e como lidar com eles, de maneira correta e funcional. Como por exemplo, adultos que não fazem compras, por que o mercado, é um ambiente com muitos estímulos sejam eles sonoros, visuais, táteis ou olfativos. A Terapia Ocupacional, auxilia com as acomodações sensoriais, mostrando que ele pode sim ir até o mercado e se proteger desses estímulos, com óculos de sol, fones de ouvido com músicas relaxantes, abafador ou protetor auricular”, explicam.

Lidando com as crises

Segundo as terapeutas, para o enfrentamento das crises é preciso saber quais estímulos podem levar a uma sobrecarga sensorial, numa perspectiva de antecipação dessa crise, como por exemplo utilizar as acomodações sensoriais, passadas pela T.O. “Se uma crise acontecer, já que não depende só da antecipação, ele saiba como se modular, se organizar novamente, seja em uma sala branca, sem estímulos visuais e auditivos, fazer respirações pausadas, fechar os olhos e ficar por alguns minutos, ter um rede em casa, para balançar, utilizando o sistema vestibular para alívio, entre tantas outras alternativas”, dizem.

Questionadas sobre as formas de lidar com o estresse e a ansiedade, elas ressaltam que é preciso ter uma fuga. “Utilizar as acomodações sensoriais ou descobrir a fuga ou escape para que ela possa se organizar. Seja no esporte, musculação, descanso após um dia de trabalho, terapia com um psicólogo, para gerenciar esse acúmulo de sentimentos e sensações mal digeridas, que podem sim, agravar o quadro do mesmo, e até mesmo o aparecimentos de comorbidades comuns em TEAs de suporte primário, como depressão, síndrome do Pânico, ansiedade generalizada entre outras”, advertem.

Adaptando o ambiente

Para as especialistas, é fundamental pensar nas acomodações sensoriais para o mesmo, como ambiente aconchegante, sem sons, sem luzes fortes, com cobertor ponderado. E manter uma rotina para o dia a dia, sem quebras, tendo hora para dormir, acordar, comer, fazer suas atividades extras, se organizar fora para se manter organizado dentro.

Sinais de alerta

Diante de casos mais complexos para possível suporte adicional as terapeutas salientam que é preciso uma avaliação porque é muito relativo. Há casos de suporte na comunicação não verbal para entender o que o outro quer dizer, interpretando as expressões. E outros, vão precisar de suporte para treino de uma habilidade específica como por exemplo, trabalhar os pré-requisitos para uma boa escrita, acertar o posicionamento dos dedos em tríade para pegar a caneta”, fala.

Programas de treinamento profissional para adultos autistas

Para que as organizações consigam integrar adultos autistas, as profissionais destacam que, a intervenção não seja somente com o TEA, mas com a empresa que eles serão encaminhados. “Não adianta criar um programa de treinamento profissional para eles sem preparar o local de trabalho e as pessoas que lá estão. É necessário respeito e sabedoria para entender que os autistas têm direitos no ambiente de trabalho e que, equidade significa dar às pessoas o que elas precisam para ter acesso às mesmas oportunidades e objetivos”, finalizaram.

Fase adulta

Isabella Martinelli, 28 anos desconfiou do autismo em meados de 2020, mas recebeu o laudo em 2023. Segundo ela, foi após uma mudança de emprego, que aconteceram algumas crises sensoriais. “Minha mãe desconfiou que fosse algo diferente e começou a pesquisar sobre. Aconteceu uma identificação, mas naquele momento não busquei um profissional porque as crises diminuíram. Depois de um tempo, comecei a fazer terapia com uma psicóloga especializada em autismo nível 1 de suporte em mulheres adultas”, fala.

Após a confirmação, Isabella continuou com o atendimento psicológico que ajudou a lidar com as dificuldades sensoriais e de socialização. “Depois de um ano, senti que precisava de um laudo pois ter meus direitos assegurados faria sim diferença no meu dia-a-dia. Então, ela me encaminhou para uma psiquiatra que confirmou meu diagnóstico. Eu chegava em casa extremamente estressada, exausta, e chegava a bater a mão na parede para ver se a dor disso me ajudava a parar minha mente. Hoje, uso fones de ouvido no trabalho para abafar as máquinas e nas reuniões para abafar barulho de criança ou outros ruídos menores que são gigantes na cabeça de um autista”, compartilhou.

Fonte: Jornal DHoje (https://jornaldhoje.com.br/p/autismo-em-adultos-a-import%C3%A2ncia-do-autoconhecimento-para-a-previsibilidade)

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