20/06 | 2 anos de Coletivamente

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Era uma casa muito engraçada…” O verso inicial do clássico de Vinícius e Toquinho vêm à mente diante do projeto “Casa dos Sentidos”, uma exposição itinerante que reproduz cômodos de uma habitação com o intuito de conscientizar as pessoas para o que sente quem sofre do Transtorno do Espectro Autista (TEA) – 1 em cada 110 pessoas segundo pesquisa nos EUA. A criação, obra de artistas, arquitetos e especialistas de saúde, num total de 500 profissionais, abre em 10 de maio na Biblioteca Nacional de Brasília (BNB) e vai até o final do mês.

Quarto, banheiro, sala de jantar e cozinha, cada uma dessas peças foi concebida por artistas plásticos e erguida por arquitetos, mulheres e homens, todos assistidos por especialistas de psicologia, pedagogia, psicomotricidade, fonoaudiologia e terapia ocupacional, a partir de oficinas em que tiveram a oportunidade de vivenciar as reações de autistas diante dos estímulos do dia a dia. A ideia da apresentação é aprofundar a empatia com portadores de TEA, produzir acolhimento e evitar preconceito e exclusão.

“Parece que fogão, panelas e potes nas prateleiras têm olhos e ficam querendo te ver, podendo representar as diversas formas de ver o mundo”, diz o folder que apresenta o projeto de cozinha do artista Bruno Romã, posto de pé pela arquiteta Nonnie Fenianos, integrantes da equipe. Essa peça quer sensibilizar as pessoas para as diferentes possibilidades de se enxergar o que parece banal ou consensual a olhos ditos comuns. A desorganização da pia desse cômodo, pode, por exemplo, aludir à desorganização da cognição diante de situações com muitos estímulos.

De modo análogo a experiência é recriada com muitas particularidades em outras partes da Casa dos Sentidos, o que explica o nome do projeto. Há ainda uma representação do cérebro desenvolvido pela artista Danièlle Carazzai em dupla com o arquiteto Givago Ferentz. “Esse espaço é para ser afetivo, para você desfrutar do lúdico por meio de desafios e brincadeiras e também aprender um pouco com os dados expostos”, diz a apresentação, cujo acesso é gratuito.

“Acho uma iniciativa fantástica. O que mais me chamou a atenção foi a expressão dos sentimentos que nós autistas vivenciamos todos os dias de forma tão intensa. Poder ver na prática o que acontece dentro da nossa cabeça é incrível. Retrata o nosso modo diferente de ver o mundo e, dessa forma, pessoas típicas poderão ter um vislumbre da dimensão do que enxergamos!” – entusiasma-se a servidora pública do Departamento de Trânsito do DF Aline Campos.

Preconceito dos colegas

Autista e mãe de um menino de 11 anos com TEA, Aline sabe de dentro e de perto o que é essa condição: “crianças com Transtorno do Espectro Autista ainda enfrentam obstáculos como dificuldades de matrícula, preconceito dos colegas, professores sem formação adequada e falta de uma perspectiva mais inclusiva por parte dos gestores no âmbito escolar”.

“Existe uma ideia equivocada quanto a padrões de comportamento endossados pela sociedade, que determina de que maneira as pessoas devem se comportar, como se deve ver o outro. Quando não somos ou nos comportamos de acordo com os padrões, o preço cobrado é exorbitante! Para que haja mudança nesse cenário, é preciso ampliar a conscientização, levando informação e conhecimento”, desabafa.

A servidora escreveu o livro “Autismo, com um novo olhar é possível amar”, publicado no ano passado com o apoio do Detran-DF. Este ano lançou também, em parceria com a OAB/DF, uma cartilha anti-bullying com a mesma temática, intitulada “Sou diferente, e daí? Tem lugar aí pra mim?”. Tem outros três livros infantis.

Ela levanta uma questão importante para instituições que fazem gestão de espaços expositivos, que normalmente não estão preparadas para atender o público com TEA. “Os colaboradores dessas instituições devem passar por um treinamento para aprender a lidar com pessoas que vivem no espectro”, recomenda. Entende ainda que esses locais deveriam oferecer espaços com estímulos reduzidos para autistas se reorganizarem em uma eventual crise.

Como na canção do poetinha, a Casa dos Sentidos também é feita com muito esmero e promete oferecer uma experiência sensorial, a partir da qual, nada será como antes, em referência a outra inspiração musical.

Fonte: Secretaria de Cultura de Brasília (https://www.cultura.df.gov.br/exposicao-na-bnb-ensina-sobre-o-autismo/)

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