20/06 | 2 anos de Coletivamente

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O centro que é um marco

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A entrevista que segue, com Michelle Gitahy, superintendente do Cuidado da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista na Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, foi publicada esta semana no jornal carioca O Dia, na coluna Informe do Dia, do jornalista Sidney Rezende.

Michelle Gitahy, fisioterapeuta com especialização em pediatria e em neurociências, há 20 anos se dedica à reabilitação de crianças e adolescentes. Mestranda em neurociências com dissertação sobre a “Construção da Linha de Cuidado Estadual para Pessoas com Transtorno do Espectro Autista”, é docente de cursos de graduação e pós-graduação em saúde e educação. A experiência ultrapassa fronteiras, tendo atuado em vivências nas Escolas de Reggio Emilia, Itália, além de mediadora do Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI) no Feuerstein Institute, em Jerusalém, Israel. Atualmente, é superintendente do Cuidado da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista na Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro.

SIDNEY – Quais os principais sintomas que uma criança autista apresenta?

MICHELLE – Existem características básicas para o diagnóstico do transtorno do espectro autista, seguindo os critérios do DSMV que é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, como déficit persistente na comunicação e na interação social, sendo o déficit na reciprocidade socioemocional, prejuízo na linguagem verbal, não verbal ou na interação das formas de comunicação, assim como iniciar e manter as relações. E, padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades como as estereotipias motoras/ vocais, insistências na rotina e em rituais, inflexibilidade devido aos interesses restritos com foco e intensidades, hiper ou hiporreatividade sensorial ao ambiente que são alterações sensoriais significativas.

Importante ressaltar que nem todas as pessoas com o diagnóstico TEA vão apresentar as mesmas e ou todas as características ou com a mesma intensidade, por isso, a avaliação precisa ser criteriosa e feita por profissionais especialistas.

SIDNEY – Pesquisa do IBGE divulgada recentemente mostra que o estado do Rio de Janeiro é o terceiro com mais pessoas diagnosticadas com autismo no Brasil – 214.637 pessoas, 1,3% da população fluminense do total de 2,4 milhões no país. Diante desses números, como é a atuação da Superintendência de Cuidado das Pessoas com Transtorno do Espectro Autista?

MICHELLE – O Governo do Estado inaugurou o Centro de Diagnóstico Estadual para o Transtorno do Espectro Autista (CedTEA)em 5 de abril de 2024, o que representa um marco importante para a população fluminense. A unidade de saúde oferece atendimento multidisciplinar de avaliação diagnóstica para crianças e adolescentes de 18 meses de vida a 17 anos, 11 meses e 29 dias que possuem encaminhamento clínico com sinais de alerta para o diagnóstico de Transtorno Espectro Autista (TEA). O centro conta com avaliações médicas e terapêuticas com equipe multidisciplinar (médicos neuropediatra/psiquiatra, assistente social, fonoaudióloga, psicóloga, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, neuropsicóloga e nutricionista).

Por compreendermos a urgência do cuidado para as crianças/adolescentes e suas famílias, o CedTEA tem um olhar diferenciado para a dinâmica do fluxo. Cada pessoa faz 12 atendimentos e avaliações de diferentes especialidades até a emissão do laudo, dentro de um fluxo de aproximadamente seis idas à unidade, levando em consideração todas as necessidades e particularidades de cada caso. Os responsáveis pelos atendidos recebem todas as orientações de cada especialista e participam da roda de conversa para famílias e cuidadores. No caso de avaliações inconclusivas, é feito agendamento de uma nova data.

Os dados trazidos pela pesquisa do IBGE são fundamentais para o planejamento e fortalecimento das políticas públicas voltadas para pessoas com TEA. As informações constituem base técnica estratégica que permite dimensionar com maior precisão a demanda existente, orientar a regionalização da oferta de serviços especializados e estabelecer metas mais assertivas para a estruturação da linha de cuidado no âmbito do SUS.

Além disso, os dados reforçam a legitimidade da atuação institucional da Superintendência, que trabalha no fortalecimento da articulação intersetorial, na capacitação dos profissionais e na expansão da rede de cuidado com foco na equidade, integralidade e garantia de direitos.

Uma das ações da Superintendência é a realização das visitas técnicas aos municípios e seus gestores com o objetivo de fortalecimento da rede de cuidado, logo, os dados irão corroborar com os planejamentos e as ações locais.

A presença dos dados nos dá força técnica e política para a implementação de programas estruturantes em saúde, educação e assistência social.

SIDNEY – Como procurar atendimento no CedTEA?

MICHELLE – O CEdTEA atende pacientes até os 17 anos e 11 meses e 29 dias. Para que as famílias tenham acesso aos serviços do CedTEA é preciso que procurem um Centro de Saúde/Clínica da Família mais próximo da residência, para que seja feito agendamento por meio de regulação, que pode ser via Sistema Estadual de Regulação (SER) ou Sistema Nacional de Regulação (Sisreg).

SIDNEY – Quantos atendimentos o CedTEA já realizou? Diante da demanda, está prevista ampliação dos serviços?

MICHELLE – O CedTEA já realizou mais de 5,1 mil consultas de abril de 2024 a abril de 2025. Nosso planejamento inclui expansão na área de Terapia Ocupacional e Neuropsicologia. E, também avaliamos a ampliação da equipe multidisciplinar com profissionais de Odontologia.

Para pessoas com mais de 18 anos, existe o CATEA, um projeto do Centro Psiquiátrico do Rio de Janeiro (CPRJ), na Gamboa. Para a realização de exames de eletroencefalograma com sedação, contamos com o Espaço TEA, no Hospital Estadual Getúlio Vargas (HEGV), na Penha.

SIDNEY – O CEdTEA atua em outros municípios do estado?

MICHELLE – O CEdTEA atende pacientes dos 92 municípios do estado. É importante destacar que o CedTEA realiza exclusivamente o diagnóstico de TEA. O tratamento é oferecido pelos municípios.

SIDNEY – Diante da sua experiência, na sua opinião é melhor autistas interagirem com outras crianças em escolas convencionais para ajudar na inclusão social ou receberem atendimento em escolas especializadas que podem atender melhor suas necessidades?

MICHELLE – Esse é um tema que necessita ser mais bem detalhado pelo tamanho desafio. Estamos falando de um espectro que é amplo e cada indivíduo é único. Temos que pensar na diversidade, nas necessidades individualizadas dos processos e de um ambiente preparado.

Para compreendermos as reais necessidades do aluno é necessária uma avaliação para posteriormente construir o Plano de Ensino Individualizado, inclusive com a participação da família. Mas existe algo de maior relevância que é compreender que esse aluno precisa de um Sistema inclusivo que está além de uma escola inclusiva.

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