20/06 | 2 anos de Coletivamente

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Combate à estigmatização

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Aos 42 anos, o psiquiatra paulista Alexandre Valverde se descobriu autista. Desde então, o médico, que tem um vasto currículo inclusive com pós-graduação em Paris, atua no combate à estigmatização e nos esclarecimentos sobre autismo.

Ele posta vídeos em que explica a condição e mostra que é possível viver bem e feliz convivendo com o autismo. “Foi libertador”, desabafou ao Só Notícia Boa.

Bem-humorado e absolutamente resolvido com o autismo, o psiquiatra paulistano disse ter compreendido que é necessário mudar a cultura da sociedade para entender que ser neurodivergente é fazer parte de uma minoria que deve ser aceita por todos. “A minha história pode ser a de muita gente, quem sabe eu contando o que vivi e vivo ajude? É libertador tudo isso, sair das amarras.”

Comportamento diferente?

O psiquiatra defende nos vídeos, postados no Instagram, que a expressão TEA (Transtorno do Espectro Autista) deve ser substituída por CEA (Condição do Espectro Autista). Segundo ele, desde que começou com os vídeos, muitas pessoas o procuram e agradecem por “desestigmatizar” o autismo e permitir que convivam com o diagnóstico sem culpa nem incômodo.

Alexandre Valverde disse que jamais suspeitou que era autista porque o conceito dele sobre “normalidade sempre foi diferente”. Transparente e seguro, o médico disse que chegou a ser diagnosticado como psicótico e internado na França, em 2018. A partir daí, passou a buscar esclarecimentos sobre o que sentia e vivia.

“Tenho dupla excepcionalidade, além de autista, tenho altas habilidades, que antigamente era conhecido como superdotação. Então, minha forma de ver o mundo sempre foi diferente”, disse.

Porém, o médico disse que desconfiava que era diferente: “Eu me sentia diferente”. Segundo ele, era mais profundo em tudo, sentia tudo com sensibilidade excessiva, hábitos repetitivos, seguia rituais rigorosos e mantinha uma disciplina fixa e exageradamente produtiva.

No entanto, a suspeita só foi confirmada durante o isolamento imposto pela pandemia da Covid-19 e uma situação trazida por uma paciente que desconfiava ser autista.

Segundo ele, a revelação ocorreu por acaso quando aplicou um teste de referência de perguntas sobre comportamento, chamado de Autism Spectrum Quotient (AQ) com 50 questões, em um paciente. Curioso, resolveu responder também. Foi quando resultado deu positivo.

Mistura de sensações

O psiquiatra disse que ficou três dias digerindo o diagnóstico. De acordo com ele, ao mesmo tempo que foi revelador, veio como uma “avalanche” por causa de todo o preconceito e estigma que carrega.

A partir da “aceitação” do diagnóstico, o médico afirmou que passou a elaborar como a descoberta dele, a experiência pessoal, poderia ser útil a outras pessoas. Foi aí que passou a criar conteúdos científicos, mas compreensíveis para explicar o autismo.

Alexandre disse que um dos piores incômodos vêm do desconhecimento. “Uma paciente disse ter ouvido ‘você é muito bonita para ser autista’”, contou ele. “Isso é um absurdo. É a inviabilização da condição como se uma pessoa inteligente, limpa e organizada não tivesse dificuldades.”

O psiquiatra obteve o diagnóstico formal que apontou que ele está no grau 1 do autismo e confirmou sua condição de altas habilidades, que também era só uma suspeita.

Alexandre foi diagnosticado como autista nível 1. Aquele que consegue ter atividades sociais e manter um padrão dentro do que a sociedade espera com plena autonomia. O psiquiatra disse que aí também está uma sutileza: não é porque a pessoa tem um comportamento dentro do que espera dela que não sofra com uma condição diferenciada.

“Muitos dos que conviviam comigo duvidavam do diagnóstico de autismo. ‘Mas como? Você é tão inteligente’”, reagiu o médico. “Mas dentro de mim, eu sabia que havia uma espécie de ‘tecido esgarçado’. Com o diagnóstico, foi esclarecido.”

O psiquiatra destacou que o autismo atualmente é observado a partir das dificuldades de interações sociais:

Nível 1 – convivem em sociedade sem necessidade de suporte externo
Nível 2 – convivem em sociedade, mas precisam de algum suporte
Nível 3 – para o convívio social necessitam de apoio total
Alexandre rechaça as expressões “leve, moderado e severo” para autismo. “Não se trabalha mais com estes termos”, afirmou.

Recomendações para quem desconfia do diagnóstico

Nos vídeos do psiquiatra e nas conversas com ele, a sensação é de tranquilidade após um diagnóstico de autismo. Porém, ele ressaltou que é preciso tomar providências, uma vez confirmado o diagnóstico, a seguir o médico faz algumas sugestões:

Faça um autodiagnóstico, mas não se prenda a ele nem sofra, apenas se examine e reflita sobre o comportamento que tem;
Procure compreender exatamente o que é a Condição do Espectro Autista (CEA);
Busque conversar e entender por meio de diálogos com outras pessoas que convivem com a condição em grupos na web, por exemplo;
Realize o teste de rastreamento, o Autism Spectrum Quotient (AQ): não é definidor, mas é uma referência;
Localize um psiquiatra e um neuropsicólogo para obter o diagnóstico.

Fonte: Só notícia boa (https://www.sonoticiaboa.com.br/2023/08/06/psiquiatra-descobre-que-e-autista-aos-42-anos-e-ajuda-desmistificar-transtorno-nas-redes)

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