20/06 | 2 anos de Coletivamente

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O autismo é um transtorno que está presente desde a infância, mas muitos adultos só descobrem que são autistas após os 18 anos. Isso ocorre principalmente devido ao diagnóstico tardio e à lacuna nos critérios de diagnóstico, que, historicamente, foram baseados em estudos com meninos, deixando muitas mulheres e adultos com sinais menos evidentes sem a identificação adequada.

Um estudo publicado na Frontiers in Neurology investigou as dificuldades de fala em adultos com autismo minimamente verbal, utilizando eletromiografia de superfície para analisar os movimentos motores da fala. Os resultados indicaram que esses indivíduos apresentam maior ativação muscular e menor complexidade na coordenação motora, sugerindo desafios específicos na produção da fala.

Pesquisas mostram que cerca de 80% das mulheres autistas não recebem diagnóstico até a fase adulta. Esse alto índice de diagnóstico tardio é um reflexo da forma como os critérios foram formulados. Durante décadas, os estudos focaram em características predominantes nos meninos, como comportamentos mais evidentes e disruptivos. No caso das mulheres, muitos sinais são mais sutis e, por isso, passam despercebidos.

Além disso, o fenômeno do “mascaramento” tem dificultado o diagnóstico. Muitos adultos autistas aprendem a esconder ou adaptar seus comportamentos para se encaixar nas normas sociais. Embora isso permita que se adaptem em determinados contextos, o mascaramento esconde as características autistas naturais, fazendo com que o transtorno não seja facilmente reconhecido. Isso, por sua vez, retarda o diagnóstico e o suporte necessário.

Desconectados dos outros

Uma experiência comum entre os adultos autistas é o sentimento persistente de ser diferente. Desde a infância, esses indivíduos podem se sentir desconectados dos outros, o que pode gerar um grande desconforto emocional. Esse sentimento não é apenas um episódio isolado, mas uma característica constante que acompanha o autista ao longo de sua vida, independentemente de suas tentativas de adaptação ou integração social.

Essa sensação de desconexão pode ser difícil de compreender para aqueles ao redor, já que muitas vezes as pessoas autistas tentam se ajustar ao mundo social, mas sem sucesso. Isso resulta em frustração e, em muitos casos, em uma falta de entendimento sobre o próprio comportamento, o que contribui para o adiamento do diagnóstico.

Outro traço característico de muitos adultos autistas é a tendência a desenvolver um interesse profundo por determinados temas ou atividades. Esses interesses não são apenas hobbies, mas verdadeiras paixões que podem durar a vida inteira. Muitas vezes, os autistas se aprofundam em seus interesses com tanto detalhe que se tornam especialistas em áreas específicas.

Esses interesses oferecem conforto emocional, funcionando como um refúgio quando o ambiente social se torna difícil de lidar. O indivíduo pode tentar inserir esses temas nas conversas cotidianas, mesmo que o assunto principal seja outro. Embora isso possa parecer estranho para quem não compreende o autismo, para o autista, esse foco serve como uma maneira de se conectar com o mundo.

As dificuldades nas interações sociais são outro desafio comum para adultos autistas. Embora seja possível que desenvolvam habilidades sociais ao longo da vida, as dificuldades com aspectos como contato visual, interpretação de expressões faciais e compreensão das nuances das conversas continuam a ser um obstáculo significativo. Isso pode tornar as interações mais desgastantes, resultando em cansaço emocional.

Muitos adultos autistas se esforçam para esconder essas dificuldades, o que aumenta ainda mais o estresse e a ansiedade. Esse esforço constante para se ajustar às expectativas sociais pode levar a uma sensação de exaustão emocional, dificultando ainda mais a interação.

A previsibilidade e a rotina desempenham um papel central no bem-estar de muitos adultos autistas. Ter uma estrutura clara e organizada ao longo do dia traz segurança emocional e permite um maior controle sobre as situações. Mudanças inesperadas na rotina podem gerar grande desconforto e ansiedade, tornando o autista mais vulnerável a crises emocionais.

A necessidade de organização e estabilidade é um reflexo de como os indivíduos autistas dependem dessa previsibilidade para se sentirem confortáveis e seguros em seu ambiente. Alterações inesperadas podem ser um desafio significativo, especialmente se a pessoa não estiver preparada para lidar com essas mudanças.

A solidão como recuperação

Após interações sociais intensas ou experiências de alta demanda sensorial, muitos autistas recorrem à solidão como uma forma de recuperação emocional. Esse espaço de isolamento oferece uma pausa necessária, permitindo que o indivíduo recarregue suas energias para enfrentar o próximo desafio social.

Esse padrão de busca por solidão está frequentemente relacionado ao esforço de mascaramento, que exige grande energia emocional. O tempo sozinho ajuda o autista a restaurar sua energia e reduzir o impacto do desgaste causado pelo esforço constante de adaptação social.

A experiência de adultos autistas destaca a importância de aumentar a conscientização sobre o transtorno. Uma melhor compreensão das características autistas pode facilitar diagnósticos mais precoces e precisos, além de promover um ambiente mais inclusivo e de apoio. O diagnóstico precoce e o suporte adequado são essenciais para ajudar os autistas a lidar com os desafios que enfrentam em sua vida diária.

Investir na conscientização e no apoio a adultos autistas pode transformar suas experiências, permitindo que vivam com maior qualidade de vida e bem-estar emocional. A inclusão e a compreensão das particularidades de cada indivíduo são passos fundamentais para uma sociedade mais justa e acessível a todos.

Causa e diagnóstico tardio

Um estudo recente aponta que altos níveis de ácidos graxos no sangue do cordão umbilical podem estar associados à gravidade dos sintomas do autismo, especialmente em meninas. Além disso, muitos adultos, especialmente mulheres, só descobrem seu diagnóstico na fase adulta devido ao mascaramento dos sintomas e critérios de diagnóstico baseados em pesquisas masculinas. 

FONTE: https://catracalivre.com.br/saude-bem-estar/voce-pode-ter-autismo-e-nao-saber-veja-como-identificar-os-sinais/

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