20/06 | 2 anos de Coletivamente

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O desconforto causado por longas filas de embarque, atrasos de voos, trens lotados e congestionamentos de trânsito pode fazer com que viajar se torne uma provação. E, para algumas pessoas, o estresse das viagens pode ser ainda mais forte.

Espaços barulhentos e lotados de pessoas, interações sociais complicadas e súbitas mudanças de rotina são fortes desafios para viajantes neurodivergentes, como os do espectro autista.

autismo é uma condição complexa, marcada por diferenças nas interações sociais, comunicações e no processamento sensorial. Esta condição afeta cerca de 1% das crianças em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde.

A variedade e a gravidade dos sintomas modificam de pessoa para pessoa. Ou seja, as acomodações específicas para cada viajante também podem variar.

Mas viajar também pode ser uma atividade muito gratificante para pessoas autistas, especialmente quando suas necessidades e sensibilidade são levadas em consideração.

“Acho que um dos maiores benefícios de viajar é a oportunidade de ampliar as noções sobre o que as pessoas autistas são capazes de fazer”, afirma o palestrante e escritor best-seller Kerry Magro, que foi diagnosticado com autismo aos quatro anos de idade.

“[Viajar pode melhorar as] capacidades sociais, comunicação, adaptabilidade e a própria autoconsciência sobre quem eles são como indivíduos e o que eles gostam de fazer.”

Detalhes que fazem diferença

Alguns conhecimentos básicos e acomodações simples podem fazer toda a diferença para as experiências de viagem de pessoas autistas – e os destinos turísticos estão trabalhando cada vez mais para fornecer estas condições para seus visitantes.

Há mais de 20 anos, o Comitê Internacional de Credenciamento e Padrões de Educação Continuada (IBCCES, na sigla em inglês) fornece treinamento para hotéis, profissionais e escritórios de turismo de todo o mundo que se interessem em receber melhor visitantes autistas e com outros tipos de neurodivergência.

Atualmente, mais de 300 empresas são relacionadas como Centros Certificados de Autismo, além de três destinos totalmente certificados. E existem outros atualmente em processo de certificação, como Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e a área da Grande Palm Springs, nos Estados Unidos.

“Incorporamos as melhores práticas dos especialistas neste campo, além dos próprios indivíduos autistas e neurodivergentes [nos nossos treinamentos]”, explica a presidente do IBCCES, Meredith Tekin. “Por isso, você irá ver indivíduos oferecendo sua experiência de vida e suas recomendações nos treinamentos.”

O IBCCES oferece treinamentos concentrados na consciência sensorial e na sensibilidade geral em relação às pessoas autistas. Eles também realizam ocasionalmente visitas presenciais a hotéis e cidades parceiras, para ajudar a identificar novas oportunidades de receber viajantes autistas.

O objetivo da organização é ajudar os destinos a receber melhor as pessoas autistas e auxiliar os profissionais do setor de turismo a compreender melhor as necessidades de acessibilidade.

Após o término do treinamento, a organização oferece certificações e a inclusão das empresas no site Autism Travel (em inglês), que relaciona destinos e atrações que o IBCCES considera “certificados para pessoas autistas”.

O IBCCES oferece certificações para restaurantes, lojas e atrações turísticas – os chamados “Centros Certificados de Autismo” – além de destinos e cidades.

Os “Destinos Certificados de Autismo” são lugares em que a maior parte das organizações relacionadas ao turismo da região já passaram por treinamento. Já as “Cidades Certificadas de Autismo” são locais em que empresas e organizações de toda a cidade foram certificadas.

Certificação recente

O destino mais recente a receber a certificação é Traverse City, no estado americano de Michigan. O local foi certificado em agosto de 2024.

Traverse City é conhecida pelo seu belo cenário natural e pela proximidade da Margem Lacustre Nacional das Dunas de Sleeping Bear.

Segundo a chefe de operações da organização Traverse City Tourism, Whitney Waara, o motivo que levou o local a obter a certificação foi simplesmente o desejo de fazer com que mais pessoas pudessem desfrutar da cidade.

“Nós realmente trabalhamos para tentar fazer com que o nosso destino receba a todos”, ela conta. “Garantir que estejamos preparados para atender a todos os turistas que chegarem, com todas as suas necessidades, tem sido uma prioridade importante para nós nos últimos anos.”

A iniciativa foi um projeto particularmente empolgante para Craig Hadley, diretor-executivo do Museu Dennos, em Traverse City. O filho de Hadley está no espectro autista e aparece no vídeo promocional da cidade que anuncia sua recente certificação.

“Parece algo simples, mas, como pai, significa muito saber que a pessoa com quem você está falando entende o contexto e por que aquele recurso é importante para aquela família”, declarou Hadley à BBC.

O museu participou do processo de certificação, treinando funcionários e criando instalações adequadas para pessoas autistas, como espaços silenciosos, mapas sensoriais e fones de ouvido com cancelamento de ruído, que ficam disponíveis para os visitantes particularmente sensíveis aos sons, como é o caso de muitas pessoas autistas.

O Museu Dennos também planejou eventos para pessoas autistas, como seu Halloween para Todos, em espaços com acessibilidade sensorial.

Traverse City se inspirou na cidade de Mesa, no Arizona – a primeira cidade amiga das pessoas autistas dos Estados Unidos, certificada pelo IBCCES em 2019.

O que começou como uma iniciativa do conselho de turismo da cidade, criada com base na experiência do seu CEO (diretor-executivo) como pai de uma criança autista, cresceu rapidamente – e passou a ser um movimento municipal, quando o prefeito tomou conhecimento dos planos.

“Nós encabeçamos o projeto e, naturalmente, informamos o prefeito e as autoridades municipais. Ele simplesmente cresceu de forma orgânica”, diz a vice-presidente de defesa e experiência no destino da organização Visit Mesa, Alison Brooks.

“Acho que foi uma daquelas coisas que surgiram no momento perfeito. Muitas pessoas [são] afetadas pelo autismo de alguma forma. Por isso, é claro que sabíamos que esta era a coisa certa a fazer.”

Para que toda a cidade fosse certificada, Mesa precisou que pelo menos três empresas e organizações em diferentes setores – especificamente, turismo, educação e assistência médica – passassem pelo processo. Mas muitas outras empresas da cidade se inscreveram – tantas, na verdade, que Mesa agora oferece um passaporte chamado “Viva a Vida Sem Limites”, que relaciona todos os centros certificados da cidade, como hotéis, restaurantes e atrações turísticas.

A página Viagem com Autismo (em inglês) do website da Visit Mesa também oferece guias sensoriais gratuitos para sete dos destinos mais populares da cidade. Eles podem ser baixados e observados online antes da visita.

A cidade de Mesa, no Estado do Arizona, foi a primeira a ser considerada amiga das pessoas autistas, em 2019

“Quase todos os dias, encontro alguém que não sabia que [a cidade] foi certificada”, diz Brooks. “Mas, sempre que falo com os moradores… eles ficam com essa sensação de orgulho.”

Para Magro, observar a disposição cada vez maior entre as cidades e destinos de aprender sobre o autismo e melhorar as acomodações para turistas neurodivergentes é um sinal positivo.

“Espero realmente que não seja uma moda, mas uma [nova] realidade e que mais pessoas da nossa comunidade sejam recebidas de braços abertos.”

FONTE: https://www.em.com.br/saude/2024/10/6964075-os-destinos-turisticos-pensados-para-receber-pessoas-autistas.html

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