Quando eu era criança, lá no começo da década de 1990, a TV Cultura passava um programa chamado Glub-Glub. Eu adorava aqueles peixinhos! Pena que, depois de crescer, perdi contato com peixes.
Isto foi até conhecer a DoroTEA, a peixinha mais fofa das águas brasileiras. Ela é autista, e junto com seus amigos conscientiza e ensina (dentro e fora das águas) sobre o autismo. A DoroTEA é uma peixinha que, além de viver nas águas, também vive em livros.
Ela já apareceu nos livros “DoroTEA, a Peixinha Autista” (2021) e “Enfrentando seus Medos” (2022), e em breve sai “DoroTEA, na Escola”. Você pode comprar os livros e outros produtos através deste link.
A coluna Voz da Inclusão colocou sua roupa de mergulho e foi encontrar a DoroTEA para um papo.
1 – Antes de mais nada, gostaria de dizer que é a primeira vez na vida que entrevisto um peixe. O seu diagnóstico foi quando já era adulta, né? Como foi pra você?
Hahaha. Sim. Fui diagnosticada “Autista com Altas Habilidades / Superdotada”. Isso me deu força para me conhecer melhor, entender o meu passado e com isso comecei uma enorme pesquisa sobre o assunto. Para mim foi um alívio, pois sempre fui uma peixinha fora da rota, sempre fugi da normalidade e isso me trouxe transtornos horríveis durante a vida.
2 – Você é um peixe. Como os humanos, pequenos e grandes, veem você?
Quando alguma amiga me visita os filhos comentam, é a DoroTea? Kkkk é muito lindo isso. A peixinha virou uma pessoa. Elas não veem como um animal qualquer e sim como a DOROTEEEEEEA. Amo isso.
3 – Como você vê a inclusão de pessoas (e peixes) com TEA na sociedade?
Incluir vai além de abrir espaço para as pessoas. Incluir é tirar as barreiras da acessibilidade. Incluir é fazer adaptações para que a pessoa com deficiência, no meu caso o autismo, tenham o mínimo de dignidade ambiental e sensorial para se viver.
4 – Você é um peixe mineiro, DoroTEA, e nós estamos aqui em Vitória, com um mar de todo o tamanho. Já passeou por aqui?
Sabe que a segunda casa do mineiro é o Espírito Santo, né? Hehe.
Mas eu não consigo muito viajar. Pra mim é difícil. Mas eu me esforço. Já fui em praias do Espírito Santo e gostei muito. Quem sabe podemos fazer uma aventura pelos mares com a DoroTEA indo para o ES e encontrando várias espécies regionais. Será lindo!
5 – Obrigado, DoroTEA, muito legal conversar com você!
Eu que agradeço. Quanto mais longe chegarmos, mais a nossa mensagem será enviada. Muito obrigada!
O autor
A DoroTEA foi criada pelo autor e ilustrador Bruno Grossi, o Begê (no segundo livro, ele contou com a colaboração da Daniele Muffato. Diagnosticado em 2018, assim como a DoroTEA, ele também é autista Altas Habilidades/ Superdotado. Falando sobre seu diagnóstico, ele conta da importância de se conhecer e se entender.
“A importância do diagnóstico tardio é para o indivíduo autista. Assim conhecemos os nossos limites. Podemos nos resguardar ao perceber que o nosso corpo não está bem. Extrapolar o nosso limite é um gatilho para crises”.
Begê conta que ilustra livros desde 2006 e já lançou dois livros de livros de poesia. Seu primeiro livro infantil foi escrito em 2009, “As Aventuras de Ralf e Carlos no Mundo da Lua”. Ele só foi mostrar o livro para uma editora em 2019, quando foi lançado. “O livro é um sucesso. Muitas escolas têm os livros e eu já vendi quase 40 mil unidades dele”.
Ele fala também do surgimento da DoroTEA e a importância dela para ele. “Me deu força e motivação para falar do meu diagnóstico e colocar em literatura de forma lúdica o dia a dia de uma pessoa autista. Foi incrível. Hoje temos um público enorme e lindo”.
Ele finaliza aos risos: “Estou muito feliz por ter voz através de um personagem, pois eu tenho muita vergonha de colocar a cara nos lugares”.