O neurocientista e neuropediatra Paulo Liberalesso escreveu o texto abaixo em suas redes sociais. Ele fez uma defesa das escolas especiais.
Manifesto em Defesa das Escolas Especiais no Brasil. Pela inclusão que respeita as diferenças, e não pela exclusão disfarçada de igualdade.
1. A inclusão verdadeira não se faz com decretos, mas com condições reais.
O Brasil atravessa um momento perigoso, pois sob o pretexto de promover a inclusão, cresce o movimento de fechamento das escolas especiais, instituições que há décadas acolhem e educam crianças com deficiências. Essa é uma tentativa de padronizar o que, por essência, é diverso. A verdadeira inclusão não consiste em colocar todas as crianças no mesmo local, mas em garantir a cada uma um espaço onde possa realmente aprender e pertencer.
2. Nem toda criança pode, hoje, frequentar a escola comum.
As deficiências não são todas iguais. Há crianças com comprometimentos intelectuais, sensoriais e motores graves, que demandam rotinas estruturadas, acompanhamento individual e recursos terapêuticos contínuos. Para elas, o ambiente da escola comum pode ser um campo de desestruturação, não de aprendizado.
3. As escolas comuns ainda não estão preparadas.
É ilusório imaginar que a simples matrícula de um aluno com deficiência em uma escola comum garante sua inclusão. Faltam recursos físicos, profissionais de apoio e planos pedagógicos individualizados. Enquanto muitas escolas mal conseguem atender à diversidade típica, exigem-se delas condições para acolher a diversidade atípica!
4. Os professores da rede regular não recebem formação adequada para atender crianças com deficiência.
A formação docente no Brasil não prepara o educador para lidar com transtornos do neurodesenvolvimento. O resultado é profissionais inseguros, sobrecarregados e sem ferramentas para promover o aprendizado desses alunos. A boa vontade não substitui o conhecimento técnico.
5. Escolas especiais não são o oposto da inclusão! São parte dela.
Defender as escolas especiais não é defender a segregação. É reconhecer que a inclusão precisa ser plural.
Pedimos ao poder público, aos educadores e à sociedade que escutem as famílias, os profissionais e, sobretudo, as próprias crianças. A defesa da escola especial é a defesa da dignidade humana.