Texto de Cláudia Moraes e Francilene Vaz (criadoras do perfil @superdotacao_entreirmas)
O termo ensimesmamento refere-se a “recolher-se em si mesmo”. Particularmente, gostamos de pensar que seja uma viagem ao nosso interior.
Pode até ser considerado um termo insólito para alguns, porém, nós que vivemos a dupla excepcionalidade sabemos muito mais vivê-lo do que explicar o significado etimológico.
Um termo que pensamos ser um complemento perfeito para ensimesmamento vem do inglês “innerspace”, que significa espaço próprio. Os dois juntos é quando deixamos o mundo em “off”, momentos que ele deixa de existir, e apenas nossas reflexões permanecem vivas.
Apreciamos, de igual modo, a definição do filósofo José Ortega y Gasset quando justifica o ensimesmamento como uma busca interna constante. Essa estratégia diária já nos rendeu alguns adjetivos como “introspectivas”, ou “no mundo da lua”, que nada tem a ver com o sentido real.
Esse processo de solitude, onde nós “viajamos” ao nosso mundo interior para encontrar respostas e, principalmente, lógica para as circunstâncias faz parte e define o ensimesmamento.
Claro que depois dessa viagem (que tem check-in e check-out), que pode ser circunstancial, opcional/ intencional, voltamos à realidade na “qualidade de protagonistas, voltamos com um si mesmo que antes não tínhamos, (…) para realizarmos nesse mundo de fora as nossas ideias, para modelarmos o planeta segundo as preferências de nossa intimidade.”
Ensimesmar é para nós autistas como uma espécie de meditação; onde deixamos por momentos o caos, mergulhamos em nossos pensamentos, o desaceleramos e passamos a vibrar em uma energia de calma, entendimento e aceitação.
Quando é saudável
Para uma pessoa autista/superdotada é salutar ensimesmar-se diante de sobrecargas/ excessos de trabalho, redes sociais, socialização, estímulos sensoriais, entre outros. O objetivo contudo deve ser sempre o autorrespeito, amor-próprio, autoestima, autoafirmação, autocuidado, na eminência de encontrar alternativas às ações e circunstâncias vividas, quer sejam positivas e/ou negativas. Porque sim, até para o que é positivo precisamos de entendimento, ou não faríamos constantemente a autossabotagem.
É particularmente uma necessidade para a autorregulação, mas também afirmamos que é autopreservação. Não há meios de viver em meio a tantas sobrecargas sem levar nosso pensamento a um oásis, tão insólito quanto nas miragens que vimos em filmes, onde pessoas em meio ao deserto “sonham e enxergam” um refrigério.
Cabe aqui e em tudo a busca permanente por equilíbrio e bem-estar.
Reflita independentemente de mês de conscientização. Faça de todos os seus meses, um Janeiro Branco e priorize a sua saúde mental.
Faça as pazes com seu cérebro.
Fonte: GASSET, José Ortega y. A rebelião das massas. Brasil: Vide Editorial; 1ª edição, 2015.