Um estudo conduzido por Jeanne Alves de Souza Mazza, neurologista infantojuvenil do Hospital Universitário de Brasília (UnB), apontou resultados promissores sobre o uso de canabidiol (CBD) no tratamento de crianças e adolescentes com autismo moderado a grave.
A pesquisa, que será apresentada no Congresso Brasileiro de Neurologia Infantil, que começou anteontem e vai até amanhã, demonstrou que o CBD pode ser eficaz na redução de sintomas comuns do Transtorno do Espectro Autista (TEA), como irritabilidade, agressividade e dificuldades de comunicação.
Publicada na revista Pharmaceuticals, a pesquisa incluiu 30 pacientes, com idades entre 5 e 18 anos, diagnosticados com autismo de nível 2 ou 3 de suporte. O estudo durou sete meses, sendo seis meses dedicados ao tratamento e acompanhamento.
Jeanne Mazza explicou que o tratamento do TEA é desafiador devido à limitação de opções terapêuticas eficazes, muitas das quais causam efeitos colaterais sem melhorar os aspectos centrais do transtorno, como a comunicação. O tratamento foi realizado com canabidiol e tetraidrocanabinol (THC).
Diferentemente do tratamento da epilepsia, que pode utilizar doses mais altas de canabidiol, a dosagem para o tratamento do autismo variou entre dois e três miligramas por quilo de peso corporal. A maioria dos participantes já apresentaram melhorias no primeiro mês de tratamento.
“Lembro de um paciente que eu acompanhava há seis anos e que nunca havia feito contato visual. De repente, ele começou a me olhar nos olhos. Isso foi impressionante”, afirmou Jeanne Mazza, a líder do estudo.
Conforme o estudo, uma vantagem do canabidiol é a baixa incidência de efeitos colaterais, sendo que alguns pacientes só relataram desconforto com o sabor e aumento do apetite.
Os resultados do estudo foram positivos:
70% dos pacientes apresentaram melhorias significativas, principalmente na redução de agressividade e irritabilidade. Esses avanços permitiram que as crianças e adolescentes se concentrassem melhor nas atividades escolares e terapêuticas.
Além disso, 63% dos voluntários tiveram melhorias nas questões sensoriais, como sensibilidade a alimentos e ao toque.
Certos pacientes também demonstraram maior aceitação aos sons e melhoria na interação social, enquanto 67% dos casos registraram progresso significativo na comunicação.
Outro benefício observado foi a redução de comportamentos repetitivos, como movimentos estereotipados das mãos e o balançar do corpo.
Em relação ao TDAH, 50% dos pacientes apresentaram uma melhora na hiperatividade e agitação. Embora o canabidiol não seja um psicoestimulante, ele se mostrou eficaz em complementar o tratamento para esses pacientes.
Outro achado importante do estudo foi a redução da polifarmácia. Cerca de 74% dos pacientes conseguiram reduzir ou interromper o uso de pelo menos um medicamento convencional.
Os resultados promissores do estudo abriram espaço para uma segunda fase da pesquisa, que incluirá um maior número de participantes e a presença de grupos de controle, com o intuito de validar e ampliar as descobertas iniciais.
FONTE: https://catracalivre.com.br/saude-bem-estar/novo-estudo-revela-que-canabidiol-auxilia-no-tratamento-de-autismo/