A palavra “Páscoa” tem uma imensa riqueza histórica. Se considerarmos o hebraico “Pessach” e influências cristãs, podemos compreendê-la como um período de libertação e de renovação espiritual que traz consigo uma reflexão sobre propósitos e significados.
Para uma parcela significativa da humanidade, independentemente de religião ou credo, vivemos apenas uma etapa da vida na Terra. Uma passagem que além de uma dádiva, é um momento de provações, mas também um tempo de aprendizagens e crescimento preparatório para a vida eterna a partir das ações que realizamos neste plano. Assim, a morte não é um momento de dor, mas sim de celebrar a vida que foi vivida.
Sob essa égide, a notícia da passagem do Papa Francisco para uma vida eterna nos faz recordar do quanto sua voz foi erguida na contemporaneidade como um chamado em favor da inclusão a partir da diversidade.
Com declarações fortes, consistentes e distribuídas ao longo de momentos cruciais da sua vida, Papa Francisco se tornou uma liderança na importância do acolhimento.
Em uma reflexão do evangelho, o pontífice discorreu de forma clara e inconteste na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia “As pessoas com deficiência são uma riqueza para a Igreja. Elas nos ajudam a ver com outros olhos, a escutar com outros ouvidos e amar com o coração mais puro”.
Dessa forma, expôs ao mundo que a dignidade é inegociável e que a verdadeira igreja somente cumpre seu papel se puder ser de todos e para todos. Por isso em 2014, famílias e pessoas com autismo puderam encontrar conforto em suas palavras, mas também o chamado à ação e que se traduz nas palavras do Papa: “É necessário um empenho de todos para promover o acolhimento, o encontro, a solidariedade, em uma ação concreta de apoio, renovação e esperança”.
Um chamado que ecoa pelas diversas igrejas e comunidades de fé que agora, além de receptivas, têm um papel essencial na indução de práticas de inclusão social. Para além de tolerância é preciso uma pedagogia do encontro que nos ensine a aprender com a diferença.
Isso pode envolver a promoção de acessibilidade em espaços físicos e virtuais, a oferta de programas de apoio às famílias e as pessoas com deficiência, e a defesa de políticas públicas que garantam os direitos de todos de modo que se queremos um futuro inclusivo e um mundo mais justo ainda nesta terra é preciso que o compromisso seja diuturno. Grupos como “Autismo na Igreja” e “Raafa” voltadas para a inclusão são rochedos nesta seara.
Um trabalho contínuo e sensível, empático e dialogado, coordenado e gestado. Não haveria espaços mais bem preparados do que as igrejas para isso, considerando os ensinamentos bíblicos que nos remetem ao profeta Miquéias (6:8): “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor requer de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus?”. Que Papa Franscisco siga sendo um farol de inclusão e que assim seja feita a Vossa vontade.
