20/06 | 2 anos de Coletivamente

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O espírito olímpico não conhece obstáculos. Quando você tem esperança e um objetivo em mente, não há barreira que impeça um atleta de ter a possibilidade de realizar um sonho em sua carreira esportiva. Até mesmo fatores que podem parecer barreiras rapidamente se transformam em desafios. É o caso do autismo e do olimpismo.

Por isso, em homenagem ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo, 2 de abril, o Olympics.com relembra três histórias individuais sobre atletas que aprenderam a conviver com essa condição e alcançaram a glória pessoal nos Jogos Olímpicos ou nos Paralímpicos.

“Se eu tivesse um cérebro neurotípico, não teria conquistado tudo o que tenho”. As palavras são claras e o sentimento está totalmente incorporado nelas. O autor dessa frase é Chris Morgan, um remador australiano de 39 anos que participou de três edições dos Jogos Olímpicos mesmo tendo sido diagnosticado com autismo de alto funcionamento.

O remador australiano poderia ser rotulado por ter alguns hábitos diferentes e dificuldade de relacionamento com outras pessoas desde os 28 anos, quando recebeu seu diagnóstico. À época, ele ficava irritado quando conversava, criando uma imagem de pessoa de poucas palavras, mal-humorada e excessivamente direta em suas opiniões – ele mesmo dizia que não sabia como lidar com isso.

“Muitas vezes, a forma por meio da qual me comunicava podia ser mal interpretada, minha forma de falar diretamente e minha obsessão em tentar melhorar realmente confundiam muita gente (…). Em grupo, meu estilo diferente de interação significa que nunca me senti confortável nem fazendo parte nas atividades cotidianas, e me viam como alguém que tinha um pouco de arrogância”, afirmou o atleta nascido em Adelaide em entrevista ao canal de televisão local ABC.

Pequenas vitórias

Uma vez diagnosticado, Morgan estabeleceu sua vida e suas relações com base em um esquema de “pequenas vitórias”. Cada avanço nas relações interpessoais e no dia a dia era encarado como uma vitória e alinhava seu caminho rumo ao seu objetivo final, a glória no remo.

“Vejo minha neurodiversidade mais como um presente que como uma incapacidade. Tem um custo, mas também um benefício. Passar pelo processo em que todos estão em sintonia com o diagnóstico ajudou a compreendê-lo”, afirmou.

Ele ainda ressaltou: “Tive que encontrar uma forma de enfrentar os desafios diários e ver pequenas vitórias. Isso estableceu minha ética de trabalho e foi o que me levou ao sucesso”.

A primeira participação de Morgan nos Jogos Olímpicos foi antes de ser diagnosticado com autismo, em Beijing 2008. No sculls quadruplo masculino, a equipe australiana conseguiu a melhor marca mundial do ano ao vencer a primeira série. Em seguida, o conjunto australiano finalizou no segundo lugar nas semifinais e ficou muito perto do pódio ao terminar em quarto lugar na final.

No entanto, o destino quis que Morgan alcançasse a glória Olímpica nos primeiros Jogos em que participou depois de ter sido diagnosticado. Foi em Londres 2012 e no mesmo sculls quadruplo masculino que o remador, com 29 anos à época, conseguiu subir ao pódio, algo que nunca tinha imaginado.

Junto a Karsten Forsterling, James McRae e Daniel Noonan, o remador de Adelaide conseguiu a medalha de bronze ao terminar em terceiro lugar na final, atrás da Alemanha, campeã olímpica, e da Croácia, segunda colocada. Nas séries iniciais, os australianos haviam se classificado em terceiro lugar na disputa com quatro conjuntos de competidores, enquanto nas semifinais vinham de um segundo lugar.

“Minha forma de pensar e minha abordagem em relação às coisas são alguns dos meus fatores de sucesso. Ser hipervisual e extremamente focado nos detalhes é realmente bom para encontrar áreas para melhorar. O autismo me tornou mais vitorioso”, explicou o australiano.

Sua última participação olímpica foi nos Jogos Rio 2016 no sculls duplo masculino. Competindo com seu compatriota David Watts, ele terminou em sétimo lugar.

O atleta australiano, que até hoje rema no Sidney Rowing Club de seu país natal, se tornou uma personalidade australiana de apoio público constante a diversas organizações de conscientização sobre o autismo sem fins lucrativos, uma atividade social que mantém até hoje.

Breanna Clark, a dançarina dos recordes


Apesar de ter sido diagnosticada com autismo aos 4 anos, o sonho da americana Breanna Clark desde pequena era o de alcançar a glória Olímpica, assim como sua mãe. Nos Jogos Olímpicos Montreal 1976, sua progenitora, Rosalyn Bryant, conquistou a medalha de prata no revezamento 4x400m feminino.

Foi com muito esforço que Clark buscou escrever sua própria história no evento 400m T20 (classe para atletas com deficiência intelectual). Dessa vez, foi Rosalyn que se emocionou com as façanhas de sua filha nas pistas de atletismo em duas edições dos Jogos Paralímpicos.

O primeiro feito de Breanna foi nos Jogos Rio 2016, ao obter, com apenas 21 anos, a medalha de ouro nos 400m T20 com um tempo de 57s79 segundos, estabelecendo o novo recorde Paralímpico.

Nos anos seguintes, ela consolidou sua supremacia no evento, com direito a novos ouros no Mundial de Londres, em 2017 e nos Jogos Para Pan-Americanos Lima 2019.

Porém, a glória absoluta aguardava Clark nos Jogos Paralímpicos Tóquio 2020. Após obter sua melhor marca do ano nas séries iniciais com um primeiro lugar e um tempo de 56s07 segundos, a americana venceu a final Paralímpica com classe: ela não só defendeu o ouro obtido no Rio, mas também estabeleceu um novo recorde mundial, con a marca de 55s18.

Na comemoração, Clark voltou a realizar uma dança que se tornou característica nas vitórias de sua carreira nos 400m.

Mikey Brannigan, o astro dos 1500m T20

Quando Michael Brannigan, mais conhecido como Mikey, tinha 18 meses, seus pais perceberam de que alguma coisa estava acontecendo com sua saúde intelectual. Aos 2 anos, ele foi diagnosticado com autismo e até os 5 anos não desenvolveu sua fala. Mas o garoto nascido em Huntington, Nova York, em novembro de 1996 tinha algo característico: sua velocidade ao correr.

Na Northport High School (escola de ensino secundário), Brannigan era um vencedor nas corridas de longa distância. Seus pais contaram que pelo menos 200 universidades de todos os Estados Unidos enviaram cartas de convite para que aquele corredor de destaque fizesse parte de seu programa esportivo.

Apesar de não ter obtido os requisitos educacionais mínimos pela NCAA (considerada a organização mais importante dos esportes universitários dos Estados Unidos) por conta de sua condição, Brannigan aceitou a oferta para fazer parte do New York Athletic Club, que arcava com os custos de suas viagens e treinos.

A um mês de sua participação nos Jogos Paralímpicos Rio 2016, Brannigan conseguiu seu primeiro feito. Durante um meeting em Raleigh, Carolina do Norte, ele se tornou o primeiro atleta com autismo da história a quebrar a marca dos 4 minutos na corrida dos 1500m. Era apenas um sinal do que estava por vir.

Nos dias anteriores à estreia paralímpica, Brannigan estava focado em estudar todos os detalhes da bela atuação do seu compatriota, Matthew Centrowitz, rumo ao ouro nos 1.500m nos Jogos Rio 2016.

“Vi o vídeo da corrida umas cem vezes. Apenas repetia para mim mesmo: ‘Você tem que correr como Matt, tem que correr como Matt’”, disse o atleta Paralímpico à imprensa de seu país.

E Brannigan cumpriu o prometido da melhor forma possível. Durante a prova dos 1500m T20, ele venceu com um tempo de 3min51s73, com mais de 4 segundos de diferença para o polonês Daniel Pek, segundo colocado, e conquistou a medalha de ouro em sua estreia nos Jogos Paralímpicos.

Após sua participação, Brannigan se consolidou como uma das figuras emblemáticas dos Estados Unidos nos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Isso levou a uma situação particular que ocorreu um pouco depois. Em setembro deste ano, o atleta recebeu uma carta. Era de um menino de 13 anos de Kentucky, que contava que seu sonho era jogar beisebol apesar das suas “dificuldades”. Na carta, o menino afirmou: “Sua carreira me emocionou e me motivou a trabahar duro (…). Você é o exemplo perfeito de determinação”.

Alguns dias depois, perguntaram para Brannigan o que ele sentiu ao ler a carta desse garoto. “Senti como se eu fosse um atleta profissional”, respondeu.

Fonte: Olympics.com (https://olympics.com/pt/noticias/dia-mundial-autismo-atletas-gloria-olimpica)

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