20/06 | 2 anos de Coletivamente

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É impossível falar de saúde mental sem falar sobre contexto social. Todo diagnóstico é também sintomático do ambiente no qual o paciente está inserido. Por isso, recortes de gênero, raça, sexualidade e outros são tão importantes. Não são raros os casos em que o estigma ou o preconceito atrasam diagnósticos e impedem que uma pessoa receba tratamento adequado. 

O fato de o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) ser mais diagnosticado em meninos é um exemplo de como as construções sociais impactam diretamente no acesso à saúde mental. O psicólogo Filipe Colombini explica o que é a condição.

“O TDAH é considerado um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades no desenvolvimento que se manifestam precocemente, em geral na infância (dependendo da fase de desenvolvimento), influenciando o funcionamento pessoal, social, acadêmico e/ou pessoal, frequentemente, durante toda a vida da pessoa. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção e hiperatividade que são frequentes e persistem em diversos contextos.”

Os sintomas são divididos em duas classes principais: desatenção e hiperatividade. A desatenção se caracteriza por uma série de condições:

1) Desatenção por detalhes;
2) Descuido em atividades/demandas;
3) Dificuldade de foco atencional;
4) Divagação (a pessoa parece não escutar);
5) Não seguimento de instruções;
6) Dificuldade de iniciar/terminar tarefas;
7) Falta de organização e planejamento;
8) Distração fácil;
9) Perda de compromissos e tarefas importantes;
10) Esquecimento de prazos.

Já a hiperatividade se caracteriza por: 

1) Agitação corporal;
2) Levantar-se/sair do lugar em situações em que se espera ficar sentado;
3) Corrida/escalada em situações em que isso é inadequado;
4) Fala em excesso;
5) Impulsividade;
6) Dificuldade de esperar;
7) Interrupção constante da fala dos outros. 

Pela própria natureza dos sintomas, é comum que o TDAH seja notado ainda na infância, principalmente em situações escolares, nas quais se espera um padrão de comportamento e seguimento de regras e demandas. 

Já na fase adulta, as dificuldades estão mais associadas às atividades no trabalho e às tarefas do dia a dia.  

Tanto homens como mulheres

O TDAH atinge tanto homens quanto mulheres. Mas por um viés social, em que impera a ideia de que mulheres são mais concentradas, quietas e calmas, elas são esquecidas no que diz respeito ao diagnóstico. Meninos são muito mais diagnosticados do que meninas, as quais tendem a ter os sintomas da condição ignorados, o que cria o imaginário de que o problema atinge apenas um gênero, como explica Filipe Colombini.

“Há um peso cultural/social, visto que se supõe que a mulher é mais ‘contida, controlada e passiva’ e, por isso, não tem TDAH. O que acontece é que há variações dos sintomas em relação aos gêneros e as mulheres foram pouco avaliadas e consideradas nas pesquisas clínicas. Há a necessidade de maior refinamento na identificação dos sintomas do TDAH nas mulheres.”

Há a ideia de que as mulheres são mais acometidas pelos sintomas ligados ao déficit de atenção, o que não é completamente verdade. O transtorno, que por muito tempo foi encarado como apenas uma diferença comportamental de gênero, provoca também sintomas de hiperatividade em pessoas do sexo feminino. 

“Atualmente os sintomas de desatenção estão mais presentes em meninas e mulheres, contudo, há também sintomas de hiperatividade. Há a necessidade de mais estudos e pesquisas clínicas sobre o TDAH em mulheres, pois, foi por muito tempo ignorado e desconsiderado em função da diferença dos sintomas entre os gêneros.”

A ideia de que mulheres se saem bem ao executar multitarefas, por exemplo, pode frustrar as expectativas de mulheres com TDAH, já que o transtorno dificulta a administração de várias tarefas ao mesmo tempo. São muitos os mitos que envolvem a condição e o sexo feminino. 

Busca por rede de suporte

Quando ocorre na infância, é feita uma avaliação clínica por meio de entrevistas sistematizadas com a criança/adolescente e seus pais, além da possibilidade de se obter informações também com a escola (equipe pedagógica), com familiares e amigos, buscando acessar toda a rede de suporte do paciente. 

“Nesse caso, a figura do AT (acompanhante terapêutico/psicólogo que atende fora do consultório) é de extrema importância, pois, além de sua observação treinada no dia a dia do paciente, ele consegue obter o relato, as impressões e as percepções de toda a rede de suporte envolvida, possibilitando a compreensão dos contextos e das funções de cada sintoma e de cada comportamento considerado hiperativo e/ou desatento. Há a possibilidade também de utilização de envio de testes psicométricos para a escola; avaliação neurológica e avaliação neuropsicológica”, elucida o psicólogo. 

Sim. A ideia é desenvolver habilidades para lidar melhor com os sintomas, a fim de melhorar a qualidade de vida do paciente. Muitas vezes, o peso cultural e social embute uma culpa na pessoa com o transtorno ou sua família e amigos, que se sentem pressionados e responsabilizados a seguirem certas “receitas” para se livrarem e/ou estarem “curados”, o que só aumenta o sofrimento 

“O tratamento é multiprofissional e necessita de uma combinação de tratamento psiquiátrico (medicamentoso) e psicológico com foco cognitivo-comportamental (podendo ser o AT, atendimento de consultório e/ou grupo de habilidades). Quando diagnosticado na infância, o tratamento inclui ainda a orientação e treinamento parental e intervenções escolares, focando a orientação e treinamento da equipe pedagógica.”

FONTE: https://drauziovarella.uol.com.br/neurologia/tdah-em-mulheres-preconceito-dificulta-diagnostico/

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