20/06 | 2 anos de Coletivamente

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O “benefício” do TDAH

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O texto abaixo foi produzido pela empresária Fernanda Fernandes, sócia da Mark, uma empresa que desenvolve plataformas de e-commerce. Acreditamos que vai ser de grande utilidade para muitos.

“Gostar de assumir riscos, ser terrivelmente agitada, avessa às rotinas sociais padrões e, com um hiperfoco peculiar, são características de pessoas com TDAH. Curiosamente, de muitos empreendedores também.

De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção, a falha do córtex frontal, que causa a dispersão do pensamento, também tem seu lado positivo, deixa a mente mais aberta, criativa e afiada, proporcionando melhores condições para insights. Quem tem TDAH vive buscando soluções diferentes, não necessariamente por gostar de viver num eterno improviso, mas por não conseguir focar na solução mais óbvia. Esses traços neurodivergentes definitivamente dificultam muito a rotina, ainda assim, quando bem trabalhados, podem vir a ser uma espécie de potencializador.

Um estudo da Small Business Economics mostrou a relação do TDAH com a veia empreendedora: 60% dessas pessoas têm mais probabilidade de ter intenções de empreender. A lista de empresários renomados diagnosticados, como Bill Gates, reforça a ideia. Entretanto, fazer comparações tão distantes da realidade é lidar com uma equação intangível e ignorar as singularidades de neurodivergentes comuns. No meu caso, por muito tempo, a minha experiência foi de uma sensação de não pertencimento, pois não me encaixava no padrão escolar.

Ainda muito nova, fui diagnosticada com TDAH, quando pouco se falava sobre o tema e o medicamento indicado mais conhecido era o Concerta. Nome sugestivo, não? Pode ser causalidade, mas era exatamente essa mensagem de necessidade de conserto que me transmitia, seja pela associação com o nome ou pelas normas sociais e escolares. O modelo de “bom aluno” era e ainda é, na grande maioria das percepções, aquele clássico de filmes: o prodígio com nada menos que a perfeição de um boletim com notas 10.

Evidentemente, eu não atendia a esse padrão de avaliação e isso impactou diretamente a minha autopercepção. Durante todo o colégio, os exemplos de alunos desejáveis, aqueles que seriam bons profissionais “com um futuro garantido” eram o oposto de mim. Então, eu deveria ser a “aluna problema”, não? Aí que tá, não deveria, e eu só descobri isso vários anos depois, quando entendi que “o meu jeito” não precisava ser consertado, apenas bem direcionado.

Domei meus demônios, transformei o que via como defeitos em diferenciais e o que fazia eu me sentir mal virou minha fortaleza. Nada é mais arriscado do que ousar ser você mesmo. Eu ousei ser empreendedora e a minha agitação foi canalizada para fazer acontecer algo que eu realmente acredito: o meu negócio. Longe de romantizar diagnósticos e trabalho excessivo, minha contribuição é para democratizar o debate e reforçar, principalmente para as pessoas que o mundo as fez acreditar que não pertenciam à normatividade social, que a neurodivergência não é apenas uma singularidade, mas um potencial. Quanto mais falarmos e desmistificarmos os tabus em torno do “problema”, mais pessoas neurodivergentes poderão encontrar seu superpoder.

FONTE: https://www.jornaldocomercio.com/ge2/artigos/2023/11/1130351-de-aluna-bagunceira-a-empreendedora-tdah-pode-ser-o-seu-superpoder.html

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