A ONU, em 1990, escolheu o mês de outubro para comemorar o Dia Internacional da Pessoa Idosa. Também no Brasil, o dia 1º é marcado como o Dia Nacional do Idoso. O objetivo com essas datas além das devidas homenagens é o combate ao etarismo, e a busca pela conscientização da sociedade como garantia do respeito ao Estatuto do Idoso (Lei 10.741, de 2003).
Junto-me a essa reflexão sobre a necessidade de sensibilização e entendimento requerido para essa faixa etária, e dentro do meu nicho como pessoa idosa e com dupla-excepcionalidade (TEA +SD) venho despertar aquele que me lê para a necessidade de dar visibilidade ao autista idoso.
As pesquisas nessa área ainda engatinham, os diagnósticos inacessíveis ou imprecisos alijam esses indivíduos do meio social. O sistema de saúde despreparado invalida a necessidade de laudos e perpetua a exclusão.
É preciso desmistificar o fato de que o diagnóstico é benéfico nessa fase tardia da vida, pois ele oportuniza entendimento sobre o passado, sana o presente e propõe mudanças para o futuro, através de intervenções e cuidados adequados, acomodações sensoriais e adaptações de rotinas. O diagnóstico adequado promove maior qualidade de vida, mais saúde, medicalização correta e diminuição de hospitalizações (muitas vezes desnecessárias).
O conhecimento sobre o transtorno nessa fase também pode promover melhor participação do idoso autista na sociedade, melhor interação com seus pares e melhor aproveitamento de suas capacidades.
Há sabedoria a ser repassada no envelhecimento, e também deve-se ensinar o respeito pelas trajetórias e contribuições. Idosos autistas costumam ter hiperfocos que ao longo do tempo consolidaram expertises, e estas podem interessar e somar com as novas gerações.
No geral, estudos apontam que autistas vivem menos que a população neurotípica, sejam seus óbitos causados por condições associadas ou alta taxa de suicídios (por causas diversas). Devemos, ainda mais, sabendo dessa questão, valorizar aquele que chegou à senescência. A validação, o cuidado e o respeito aos mais frágeis socialmente são sinais evolutivos de uma sociedade.
Que cada vez mais possamos ver os cordões de quebra-cabeças e girassóis sendo usados, e pelos idosos autistas e validados, como garantia de aspectos legais, sim. Mas principalmente de respeito ao ser humano.